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biocombustíveis
2007-10-24
O embaixador especial para combate à fome da ONU, Jean Ziegler, anunciou que vai propor à Assembléia Geral em Nova Iorque, no próximo dia 25, uma moratória de 5 anos na produção de biocombustíveis. A moldura desse anúncio é uma cena européia e norte-americana muito confusa e perturbada.

A cena européia está bastante conturbada. Abaixo segue-se a enumeração de alguns componentes tanto da cena quanto da moldura que a enquadra.

1. É cada vez mais patente o fracasso das missões invasoras e controladoras no Iraque e no Afeganistão, vindas dos Estados Unidos e de países da União Européia, do centro e da periferia.

2. Cresce o isolamento dos Estados Unidos no plano geral e no governo Bush no plano internacional e interno. O governo norte-americano se decompôs em parte, restando no proscenio o presidente e Condoleeza Rice. Os próprios militares norte-americanos não confiam mais no seu governo, conforme análise do historiador Gabriel Kolko (autor de The Anatomy of War e de The Age of War: the USA Confronts the World) no Der Spiegel. O governo tenta agora romper esse isolamento lançando a proposta de uma reunião para estabelecer a paz no Oriente Médio entre Ehmud Olmert, o premiê israelense, e seu “colega” Mahmoud Abbas, do lado palestino. A reunião estaria prevista para 26 de novembro, em Annapolis, estado de Mayland, nos Estados Unidos.

3. Dois movimentos acresceram o isolamento dos Estados Unidos. O primeiro, que pode ser pontual, foi o reconhecimento oficial pelo Senado norte-americano do massacre dos armênios na Turquia, no começo do século XX. A resolução, que foi bem vinda por todas as organizações humanitárias e semelhantes, e que contou com a firme oposição de Bush, criou um contencioso com o governo turco, que agora se mostra disposto a intervir no norte do Iraque contra os curdos, o que desagrada sobremaneira Washington.

4. O segundo, mais duradouro, é o de que os Estados Unidos não conseguiram isolar o Irã. Pelo contrário, como desde antes da reunião do G-8, em junho, na Alemanha, os Estados Unidos através da OTAN deram demonstração de que continuavam a querer cercar a Rússia com bases de mísseis e de apoio para eles, o governo de Moscou passou a fazer o papel de contemporizador com o governo de Teerã. Este saiu pelo mundo, aportando até na Bolívia para celebrar acordos comerciais e de cooperação na questão energética. Ao invés de isolar seus “inimigos”, antigos ou não, Washington está conseguindo propor-lhes algumas frentes comuns, empurrando para a mesma bacia almas tão diferentes quanto as de Mahmoud Amadinejadad, Vladimir Putin, Evo Morales e Hugo Chávez. Putin deve se comprometer com a criação de uma usina nuclear no Golfo Pérsico, para o Irã em sua visita a Teerã.

Neste contexto, em que a questão essencial por detrás ainda é o petróleo, as Nações Unidas vão receber no próximo dia 25 de outubro a proposta de seu embaixador especial para o combate a fome, o sociólogo suíço Jean Ziegler, no sentido de se criar uma moratória de 5 anos na produção de biocombustíveis alternativos ao fóssil. Em entrevista e em material divulgado, Ziegler esclarece que seu objetivo é dar tempo para que os cientistas do ramo desenvolvam biocombustíveis a partir de dejetos de produtos agrícolas, para não comprometer as fontes (terras aráveis e água) que poderiam ser utilizados para a produção de alimentos.

Segundo ele, o aumento da produção de biocombustíveis (como seria o do etanol, no Brasil) poderia intensificar o drama da fome no mundo, roubando áreas aráveis e causando o encarecimento da cadeia de produção alimentar, com conseqüências catastróficas para os países pobres, em particular os africanos.

Um exame mais de perto das declarações de Ziegler, feitas no dia 11 de outubro pp., permite ver que:
1) Ele mesmo admite uma contradição em seus argumentos, ao dizer que a morte pela fome ou razões conexas de cada criança “é um assassinato”, porque o mundo (citando dados da FAO) produz hoje alimentos suficientes para doze bilhões de pessoas, ou seja, o dobro da população mundial. O problema portanto não estaria na falta de produção mas na desigualdade da distribuição e da renda.

2) O foco de sua atenção é a África. Ao mesmo tempo em que vai falar da fome, Ziegler anuncia que vai pedir a revogação do “direito à deportação” por parte dos países europeus. Ou seja, Ziegler vai argumentar junto à Comissão de Direitos Humanos da ONU que, se alimentar-se é um direito, e se as pessoas não tem condições de faze-lo em seus países, elas têm o direito de buscar lugares onde possam se alimentar. De quebra, grande parte das catástrofes africanas são conseqüência de políticas européias ou de empresas sediadas na Europa. Para ele os países europeus não teriam o direito de negar asilo e acolhimento a essas populações, impondo políticas restritivas, como a maioria vem fazendo.

A moldura de guerra e o quadro de fome e de produção alternativa de energia aparentemente teriam uma ligação tênue entre si. Ou até mesmo se pode inverter a relação: moldura de fome e quadro de “retorno de uma nova Guerra Fria”, a quente em certas regiões.

Mas não é bem assim. A moldura e o quadro, seja qual for uma e o outro, mostram que em parte o cenário político mundial é visto sem esperança de transformação no curto prazo. As potências mundiais comportam-se como se estivessem na super-produção Os Últimos Dias de Pompéia, quero dizer, do Petróleo, numa batalha retórica e bélica cujo cenário é, no momento, o Afeganistão, o Iraque, o Irã e o Oriente Médio. Enquanto isso vai-se debater se convém assumir uma moratória de cinco anos para projetos que são vitais para o estabelecimento de alternativas energéticas, que terão também conseqüências – talvez positivas – no plano político. A maior questão da proposta de Ziegler é a de se a humanidade como um todo ainda tem cinco anos para protelar esses projetos, ou se já não será tarde demais, tanto do ponto de vista do meio-ambiente quanto do ponto de vista de intensificação do quadro (ou moldura) de guerra sem limites.

(Por Flávio Aguiar, Agencia Carta Maior, 19/10/2007)

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