Porto Alegre (RS) - A monocultura de eucalipto está contribuindo para alguns fenômenos de desequilíbrio ambientais verificados no Estado. Na avaliação do membro do Centro de Estudos Ambientais (CEA) de Pelotas, Luis Rampazzo, a grande quantidade de agrotóxico utilizado pelas monoculturas intensifica fenômenos como a infestação de besouros em Bagé e o sumiço de abelhas em várias cidades gaúchas.
Para ele, a monocultura do eucalipto aumenta os efeitos já causados pelo plantio em larga escala de outras culturas, como a soja, e alguns reflexos das mudanças climáticas, como a estiagem. Rampazzo cita o caso do eucalipto, que é cortado sete anos depois do seu plantio. Durante o período de crescimento, as mudas recebem pelo menos cinco aplicações de herbicidas e formicidas de grande impacto.
“Toda e qualquer prática da monocultura, ainda mais pela grande utilização de agrotóxicos, os chamados venenos agrícolas, tem causado, de uma forma ou outra, grandes desequilíbrios ambientais. Não só pela infestação de besouros que nós temos visto aí nas monoculturas de eucalipto, de pinus, e de acácia negra. Mas sinal desse desequilíbrio também é a mortandade de abelhas, que isso é uma coisa que tem nos preocupado”, diz.
A infestação de besouros, conhecidos como cascudos, se iniciou em Bagé no ano passado, quando a população desses insetos chegou a dobrar. Já o sumiço das abelhas tem sido registrado em várias cidades da região sul, como Nonoai, Erechim e São Borja, onde existe plantação de eucalipto. No entanto, o sumiço dos enxames também foi constatado em locais da região norte, onde há plantação de acácia negra, outra espécie usada nas monoculturas para produção de celulose. Além disso, o uso de agrotóxicos prejudica especialmente o agricultor, que não costuma usar equipamentos de proteção pessoal.
O ambientalista lembra, ainda, que as monoculturas devem acelerar as mudanças climáticas, como o regime dos ventos. Ele explica que as mudas vão funcionar como barreiras, impedindo a circulação do vento, o que poderia modificar a distribuição das chuvas. Para ele, isso mostra que os prejuízos das monoculturas vão além do aspecto ambiental.
“O ambiental nunca vem sozinho. Quando há um desastre ambiental, com certeza, nós vamos ter problemas sociais e econômicos muito grandes também, porque essa monocultura do eucalipto da forma como está avançando ela começa, cada vez mais, a diminuir a quantidade de possibilidade de terras para reforma agrária, para assentamento de famílias, para plantios”, diz.
De acordo com Rampazzo, o uso de terras para a produção comercial de eucalipto vai encarecer o preço de vários produtos agrícolas, pois diminui o espaço destinado à produção de alimentos. No Rio Grande do Sul, um milhão de hectares devem ser usados para a produção de mudas para celulose.
(Por Patrícia Benvenuti,
Agencia Chasque, 23/10/2007)