Dois grandes incêndios ameaçam as belezas naturais da Chapada Diamantina. O período de seca e a baixa umidade do ar ajudam a alastrar as chamas que somente no município de Piatã, a 580 quilômetros de Salvador, já atingem uma extensão de cerca de sete quilômetros. O primeiro deles, começou há cerca de uma semana, no município de Abaíra, a 605 quilômetros da capital, e atingiu o entorno da Área de Relevante Interesse Ecológico (Arie) onde fica a nascente do Rio das Contas, provocando um estrago na fauna e na flora local.
Uma das maiores preocupações dos ecologistas locais é que nesse local estão afluentes dos rios Paraguaçu, São Francisco, além da nascente do Rio das Contas. “O prejuízo é muito grande e tememos que o fogo atinja as matas ciliares desses rios, o que provocaria um grande assoreamento, aumentando ainda mais os danos”, disse o diretor de Meio Ambiente do Instituto Sociocultural e Agroecológico da Chapada Diamantina (ISA), Antônio Bandeira.
A Secretaria de Agricultura de Piatã estima que os incêndios tenham provocado um estrago em mais de mil hectares de vegetação, causando um grande prejuízo ambiental. Três dias depois, um novo foco surgiu na Serra da Santana, em Piatã, que já se espalha por cerca de sete quilômetros. A falta de efetivo e de equipamentos adequados impedem que o fogo seja debelado.
Apenas um pequeno grupo de voluntários se aventura a enfrentar as chamas para tentar combater o fogo. Mas, os fortes ventos e a velocidade com que as chamas se proliferam, impedem que o trabalho seja executado. Exaustos, os brigadistas voluntários já entregaram os pontos. “Perdemos o controle da situação, precisávamos de equipamentos e de aeronaves para eliminar os focos”, constata o estudante universitário, Ricardo Silva. Até o final da tarde desta terça, nenhuma ajuda havia chegado. Apenas um efetivo do Corpo de Bombeiros de Lençóis se deslocou para o local com cinco homens.
Apesar das dificuldades, os voluntários não medem esforços para enfrentar o calor e a fumaça. O mecânico de bicicleta, Moacir Gustavo de Souza Barbosa, deixou o trabalho para se embrenhar na mata para combater o fogo. Assim como ele, Valtez Rego e mais dois amigos se juntaram ao grupo munidos de abafadores de borracha e mochilas com água. Mas a luta é desigual e o fogo está ganhando o combate.
Socorro – De Rio de Contas, a funcionária da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Semarh), Ângela Leony, não se desliga de duas linhas telefônicas em busca de socorro. “A secretaria está enviando um carro para que possamos fazer o transporte dos brigadistas voluntários, estamos acionando todo mundo que pode nos ajudar a evitar um estrago ainda maior”.
Até o final desta terça-feira, 23, nenhum carro da Semarh havia chegado a Piatã. De acordo com Ângela, que está sediada na cidade de Lençóis, o trabalho de combate aos incêndios não poderá ser resolvido apenas com o trabalho dos voluntários. “O fogo já tomou uma dimensão que para ser debelado será preciso uma brigada especial com aeronaves”, ressaltou.
O coordenador de manejo da Semarh, Floriano Alvarez Soto, disse, por telefone, que está buscando intensificar a fiscalização na região. “A maioria desses incêndios é criminosa, mas precisamos de um contingente maior de fiscais e de mais gestores para atender a região”, disse.
(Por Ronaldo Jacobina,
A TARDE Online, 23/10/2007)