A coordenadora da Via Campesina, entidade que congrega movimentos de trabalhadores rurais sem-terra, Janete Brites, confirmou ontem (23/10) que os sem-terra usaram uma das armas dos seguranças contratados pela multinacional Syngenta Seeds. O revólver foi usado no tiroteio entre sem-terra e seguranças durante a reocupação da fazenda experimental da empresa, em Santa Tereza do Oeste, no domingo. Duas pessoas morreram.
Em entrevista à reportagem do Paraná TV, Janete disse que os seguranças deixaram algumas armas na fazenda e que só as utilizaram para se defender. "Naquela hora de desespero a gente tenta se defender", contou. A polícia apreendeu, até agora, apenas uma arma usada no tiroteio.
Apesar da confissão, a polícia de Cascavel ainda investiga como e quem iniciou o tiroteio. Dezenove pessoas já prestaram depoimento. "Passados alguns dias começam a surgir informações e a polícia vai recebê-las, processá-las e trazê-las para o inquérito", disse o delegado Amadeu Trevisan, que conduz o caso.
Na tarde desta terça-feira, Nercy Freitas, o dono da empresa NF Segurança, contratada pela Syngenta, prestou depoimento à polícia. Ele foi indiciado por homicídio e se defendeu. "Fomos lá (para a fazenda) para negociar porque tinha um refém nosso e pegar nossos equipamentos de segurança, mas fomos recebidos a bala e aconteceu o que aconteceu", disse.
A fazenda permanece ocupada pelos sem-terra que lacraram o portão da entrada com arame farpado. Somente integrantes do movimento conseguem entrar. Apesar da ocupação, o diretor-geral da empresa, Gilson Moleiro, disse por meio da assessoria, que a Syngenta ainda não ingressou na justiça com o pedido de reintegração de posse.
"Nós esperamos que os membros do MST deixem a estação (da Syngenta) sem a necessidade de um novo pedido de reintegração de posse, porém, se for necessário nós o faremos", disse. “Neste momento, a prioridade é colaborar com as autoridades para que os fatos sejam esclarecidos com a maior brevidade e transparência possível", completou Moleiro.
Ameaça de morteO líder assassinado do (MST), Valmir Mota de Oliveira, o Keno, teria registrado um Boletim de Ocorrência, em março deste ano, após ter sofrido uma ameaça de morte. Segundo informações da Agência Estadual de Notícias, os telefonemas ameaçadores foram anônimos e feitos para o número da Secretaria do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra, em Cascavel. “A recepcionista atendeu as ligações da pessoa avisando que nós iríamos morrer”, disse o sem-terra Celso Ribeiro Barbosa.
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Gazeta do Povo, 23/10/2007)