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Conflito SocioAmbiental via campesina
2007-10-23
Porto Alegre (RS) - A morte de mais um trabalhador sem terra evidencia a existência de milícias armadas no Paraná. O sem terra Valmir Mota de Oliveira, de 42 anos, e um funcionário da empresa NF Segurança morreram neste domingo (21/10), em um ataque de pistoleiros, após a reocupação do campo experimental da transnacional Syngenta Seeds por integrantes da Via Campesina, em Santa Tereza do Oeste. Outros camponeses ficaram feridos, entre eles uma agricultora, que se encontra em estado grave no hospital.

Cerca de 150 integrantes da Via Campesina ocuparam novamente a área da empresa de manhã cedo em protesto ao plantio de soja e milho transgênicos perto do Parque Nacional do Iguaçu, uma área de preservação ambiental, o que é considerado ilegal pela Justiça brasileira. Na ocasião, os sem terra relataram que soltaram fogos de artifício para avisar sobre a ocupação. Também renderam os quatro seguranças que estavam no local e apreenderam as armas para entregarem à polícia.

No entanto, por volta das 13h30 da tarde, um grupo de cerca de quarenta pistoleiros fortemente armados voltou ao local e atacou o acampamento. Foi neste momento que Valmir foi executado e os outros agricultores feridos. O coordenador da Via Campesina Celso Barbosa, conta que não é a primeira vez que este grupo ataca famílias sem terra. "Na nossa avaliação, ele [grupo armado] sempre existiu. Todas as áreas que ocupamos sempre deram problema. Esse mesmo grupo foi o mesmo que despejou outras famílias em Aninindeua, no Oeste. O mesmo estilo que usaram contra a gente fizeram lá", diz.

O coronel Celso José Melo, Comandante de Policiamento do Interior da Polícia Militar, refuta a existência de milícias armadas no Paraná. Ele acredita que tenha sido um confronto entre sem terra e seguranças particulares, que não têm experiência em trabalhar em situações de conflito. O coronel relata que a Polícia Militar e a Polícia Civil do estado estão investigando o caso. Já autuaram sete integrantes da segurança e ouviram nove integrantes da Via Campesina e ainda procuram armas de fogo que estão desaparecidas.

"Num primeiro momento foi tratar de recolher as provas do confronto e, depois, fazer com que as pessoas sejam responsabilizadas por um ato como este. A polícia militar e a polícia civil do Paraná não podem deixar que confrontos desse naipe venham acontecer, porque o Estado é exemplo nas tratativas em que conduz com os movimentos sociais por causa da terra. Não é nesse momento em que vamos deixar de agir com mais rigor ainda", diz.

Em nota divulgada nesta segunda-feira, a Via Campesina denuncia que o agricultor assassinado e outras lideranças estavam sendo ameaçados há seis meses por pistoleiros da região. O grupo armado teria ligação com a Sociedade Rural da Região Oeste e seria contratado pela NF Segurança, uma empresa de fachada. A nota dos agricultores diverge da declaração da Syngenta Seeds, que divulgou um documento neste domingo à imprensa, em que afirma que é contra a política da empresa ter seguranças armados.

No entanto, organizações de direitos humanos, entre elas a Terra de Direitos, entregaram provas da ação de milícias armadas no Oeste do Paraná durante a visita da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados ocorrida na Capital, na semana passada. No documento, as entidades inclusive citam a atuação da empresa NF Segurança na região e criticam a omissão da Polícia Militar do Estado em investigar os fatos, como afirma a integrante da Terra de Direitos, Maria Rita Reis.

"A Terra de Direitos e outras organizações de direitos humanos denunciam, desde Novembro de 2006, a organização de produtores rurais no Oeste do Paraná na compra de armamentos e na organização de grupos armados para coibir a atuação dos movimentos sociais naquela região. Inclusive, a Polícia Federal fez um relatório sobre essa questão, foi realizada uma operação na empresa de segurança, que é totalmente ilegal, foram apreendidos armamento pesado que é ilegal e que foram roubados. Inclusive a dona da empresa de segurança foi presa na ocasião, mas nenhuma medida foi tomada e a Syngenta continuou contratando o serviço de segurança dessa empresa", diz.

Somente nos últimos três anos, dois trabalhadores sem terra foram assassinados por milícias no Paraná.

(Por Raquel Casiraghi, Agencia Chasque, 22/10/2007)

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