A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), secção Cascavel, responsabilizou o Governo do Paraná pela reocupação da fazenda experimental da multinacional Syngenta Seeds, em Santa Tereza do Oeste, no Oeste do Paraná, que terminou com a morte de duas pessoas no confronto armado entre segurança e sem-terra. Em nota oficial, a OAB afirmou que o estado está agindo com “fraqueza e falta de vontade”.
A preocupação, segundo Luciano Braga Cortes, presidente da secção em Cascavel, é que o governo vem "reiteradamente descumprindo ordens judiciais gerando um sentimento de instabilidade e impunidade”. “Não quero entrar no mérito de quem está certo (empresa ou sem-terra), mas esse desrespeito às ordens da Justiça alimenta ações como essa (ocupação)", afirmou.
Por telefone, o presidente da OAB no Paraná, Alberto de Paula Machado, se manifestou sobre o caso. "Para a garantia do estado democrático de direito as partes, no caso o MST e o Governo, devem cumprir às ordens do Poder Judiciário. Ou cumpre ou recorre, o que não pode é descumprir a ordem judicial porque se não passamos a viver numa barbárie", comentou.
Em nota divulgada no fim da tarde desta segunda-feira, no site oficial do governo do estado, a Secretaria da Segurança Pública do Paraná repudiou as declarações do presidente da OAB em Cascavel. "Justificar a ação de grupos armados no campo é justificar ação de bandidos que ignoram as leis. Nós não desrespeitamos as leis, tanto é que cumprimos uma média de uma reintegração a cada dez dias sem que uma pessoa morresse no campo", disse o secretário Luiz Fernando Delazari.
No caso da última ocupação na fazenda da Syngenta, a Polícia Militar do Paraná não cumpriu a ordem da justiça de reintegração de posse. Após esgotados todos os prazos estipulados pela justiça, os integrantes do MST resolveram desocupar a área depois que o juiz de Cascavel fixou multa pessoal ao governador Roberto Requião para cada dia de desobediência da determinação da justiça.
Ainda na nota divulgada no site do governo, a secretaria informou que policiais civis e militares de Cascavel afirmaram que os seguranças já chegaram atirando contra os sem-terra na Syngenta. De acordo com o documento, existe um vídeo, ainda não divulgado, entregue pelos trabalhadores sem-terra à Polícia Civil, que registra o momento da chegada dos atiradores na fazenda.
Destacado para acompanhar o caso, o coronel Celso José Mello, Comandante do Policiamento do Interior, disse por telefone que ainda não é possível afirmar que os seguranças iniciaram o confronto armado. "É muito cedo para fazer este juízo de valor e julgar o fato antes da hora. O inquérito começou agora", disse.
ONGs responsabilizam SyngentaAs organizações de Direitos Humanos de todo o Brasil encaminharam na tarde desta segunda-feira uma carta ao Ministério da Justiça e ao governador Roberto Requião responsabilizando a multinacional pelo confronto armado que terminou com a morte de duas pessoas.
Por meio de sua assessoria, a empresa refutou qualquer tipo de acusação que a responsabilize pelo tiroteio entre seguranças e sem-terras. Informou ainda que só vai se pronunciar sobre o caso após a conclusão da investigação da polícia sobre a morte do sem-terra e do segurança.
Polícia foi chamada para reforçar a segurança na entrada da fazendaA Syngenta lamentou profundamente as duas mortes e esclareceu que em nenhum momento autorizou o uso da força e de armas para manter a segurança do local. Inclusive, diz a assessoria, o contrato firmado com a empresa de segurança prevê que os funcionários trabalhem desarmados.
Por fim, a multinacional Syngenta Seeds reforça que está à disposição das autoridades competentes para esclarecer o ocorrido durante a ocupação da fazenda. A empresa ainda não ingressou com pedido de reintegração de posse na justiça. A Syngenta ainda não ingressou com um pedido de reintegração de posse na justiça do Paraná.
TiroteioNo início da madrugada de domingo, cerca de 150 integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), invadiram a fazenda. Houve tiroteio entre seguranças e sem-terra e duas pessoas morreram - o segurança Fábio Ferreira de Souza e o líder sem-terra Valmir Mota de Oliveira, conhecido como Kenun. Pelo menos outras cinco pessoas ficaram feridas – uma em estado grave.
Nove pessoas ligadas ao MST foram apresentadas, pelo próprio movimento, prestaram depoimento e foram liberadas em seguida. Os sete seguranças detidos no dia da invasão permanecem detidos. A arma usada pelos sem-terra no confronto ainda não foi apreendida.
A polícia ainda não identificou o sem-terra que, durante o confronto, matou o segurança. "Estamos trabalhando para identificá-lo e prendê-lo, o que pode acontecer ainda hoje (segunda-feira). Nos depoimentos, seguranças e sem-terras se acusam mutuamente sobre a responsabilidade do início do confronto”, explicou o coronel Celso José Mello, Comandante do Policiamento do Interior. Mello afirmou ainda que a Polícia Militar mantém um efetivo nas imediações da fazenda experimental para manter a segurança.
O corpo do sem-terra Valmir Mota de Oliveira, conhecido como Kenun, foi velado e sepultado na tarde desta segunda-feira em Cascavel. Os integrantes do MST fizeram um ato público dentro da fazenda para protestar contra a morte de Oliveira.
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Gazeta do Povo, 23/10/2007)