No período seco, a degradada Lagoa da Pampulha, na Região Norte da capital, sofre com a eutrofização – excesso de esgoto no lago e conseqüente proliferação de algas que, quando entram em estado de decomposição, provocam o aumento de microorganismos e a piora da qualidade da água. Se a situação já é ruim por causa desse fenômeno, as primeiras chuvas, como as da semana passada e de ontem, pioram ainda mais a vida da população do entorno. O volume de rejeitos sólidos carreado dos córregos Ressaca e Sarandi aumentou. O mau cheiro e o excesso de lixo coloca em xeque a eficiência do consórcio de recuperação da Pampulha, formado pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), de Contagem e empresas públicas e privadas com o objetivo de acabar definitivamente com a poluição.
Segundo o gerente do Programa de Recuperação e Desenvolvimento Ambiental da Bacia da Pampulha (Propam), Weber Coutinho, a lagoa está totalmente eutrofizada nessa época do ano e as primeiras chuvas, ao “lavarem” a poluição da bacia, levam todo esse material para a lagoa. “É lançada uma carga repleta de hidrocarbonetos, fosfatos, óleos, graxas, alumínio e coliformes fecais. Por isso, ainda não deu tempo de limpar as barreiras”, afirma. O engenheiro sanitarista se refere às duas linhas de contenção, cercas de tela instaladas em dois pontos do espelho para reter os resíduos flutuantes vindos do Ressaca e Sarandi e da Região Noroeste. A primeira, perto da Ilha dos Amores, mede 75 metros e a outra, na Enseada do Zoológico, 250 metros. Ontem, funcionários da empresa vencedora da licitação para manutenção da limpeza do lago usavam uma das três embarcações adaptadas para se chegar até os diques e recolher o material. “É coisa demais. Hoje não vamos terminar”, disse um deles, que preferiu não se identificar.
Com as chuvas, a Estação de Tratamento de Águas Fluviais (Etaf), construída no Parque Ecológico Promotor Francisco José Lins do Rego, não consegue despoluir as águas do Ressaca e Sarandi que recebe. “A Etaf foi feita para tratar até 750 litros de vazão média. Quando chove, não trata nada”, diz o Superintende de Serviços e Tratamentos de Efluentes, Ronaldo Matias. As precipitações e a redução da insolação provocam ainda a morte das algas que, ao se decomporem, liberam nitrogênio e enxofre. “Esses gases tem odor ruim. A população tem razão de estar indignada com o cheiro”, concorda Coutinho. E não só o fedor incomoda o médico Roberto Gomes Dias, de 66, morador da orla desde 1974. “Dormimos em um cortinado, como na selva. Além do insetos, é muito triste ver que as questões de fundo, como a redução do lixo lançado nos efluentes por meio de ações de educação ambiental, não são feitas”, reclama.
(Por Izabela Ferreira Alves,
Estado de Minas, 22/10/2007)