A Secretaria de Segurança Pública do Paraná determinou que policiais fiquem de prontidão nos próximos dias nas imediações da fazenda experimental de transgênicos da multinacional Syngenta Seeds, no cinturão de proteção ecológica do Parque Nacional do Iguaçu, em Santa Tereza do Oeste. No local, duas pessoas morreram num conflito ocorrido no domingo (21/10), entre seguranças e trabalhadores rurais, e três seguranças e seis integrantes da Via Campesina ficaram feridos.
A área da Syngenta foi reocupada na manhã de domingo por cerca 150 pessoas da Via Campesina. O campo de experimento da empresa havia sido ocupado pelos camponeses em março de 2006, para denunciar o cultivo ilegal para reprodução de sementes transgênicas de soja e milho. Em julho deste ano, as 70 famílias desocuparam a área, se deslocando para um local provisório no assentamento Olga Benário, também em Santa Tereza do Oeste.
Segundo a assessoria do MST - já que os integrantes do movimento não estão autorizados a dar entrevistas por medida de segurança - eles chegaram à fazenda e liberaram os homens que faziam guarda no local, não mantendo nenhum refém como chegou a ser divulgado pela imprensa. Na reocupação, os trabalhadores rurais soltaram fogos de artifício e os seguranças, abandonaram o local.
Em nota divulgada na noite de domingo (21/10), a Via Campesina informou que "por volta da 13h30, um micro ônibus parou em frente ao portão de entrada e uma milícia armada com aproximadamente 40 pistoleiros desceu atirando em direção as pessoas que se encontravam no local. Os pistoleiros arrombaram o portão, executaram o militante com dois tiros, balearam outros cinco agricultores e espancaram Isabel do Nascimento de Souza, que se encontra hospitalizada gravemente ferida".
O chefe do Comando de Policiamento do Interior, coronel Celso José Mello, disse à Agência Brasil que a violência não é o padrão de comportamento dos movimentos sociais do Paraná, e classificou o episódio de “lamentável”. Segundo ele, as apurações serão rigorosas tanto das atitudes da Via Campesina, quanto dos seguranças da fazenda.
Ele afirmou que a polícia já ouviu os envolvidos, entre eles nove integrantes da Via Campesina, e já começaram as investigações para saber o que realmente aconteceu. “No local foram encontrados várias marcas de tiros. Agora estamos analisando os projéteis para identificar de quais armas partiram”.
O comandante não quis comentar a denúncia feita pelo movimento de que a Syngenta contratava serviços de segurança para atuar de forma irregular na região articulados com a Sociedade Rural da Região Oeste (SRO) e o Movimento dos Produtores Rurais (MPR). “Isso será investigado”.
Em nota divulgada domingo (21/10) a Syngenta "lamenta profundamente o incidente ocorrido" e informou que está colaborando com as autoridades locais na apuração do que de fato ocorreu na unidade. No texto, reforçou que sua política global determina que "não se use força ou armas para proteger suas unidades". Até esta segunda-feira (22/10), a empresa ainda não havia se manifestado.
O corpo do segurança Fábio Ferreira, 25 anos, morto durante o confronto está sendo velado na capela mortuária de Santa Tereza do Oeste, onde deve ser sepultado hoje à tarde, e o militante da Via Campesina, Valmir Mota, também morto durante a troca de tiros na área da multinacional, está sendo velado no Assentamento 1º de Agosto, em Santa Tereza do Oeste.
(Por Lúcia Nórcio,
Agência Brasil, 22/10/2007)