No rastro do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), uma ameaça aos povos indígenas da Ilha do Bananal e à população do seu entorno retorna ao cenário regional. Trata-se da construção da BR-242, conhecida como Transbananal, que pretende ligar o Mato Grosso ao Tocantins, cortando a Ilha do Bananal.
O projeto inicial da BR-242 remonta à década de 1970, quando foi duramente criticado tanto pela inviabilidade diante dos impactos ambientais, quanto pela sua inconstitucionalidade. Ele prevê a passagem da estrada por terras indígenas, o que necessariamente vai ocasionar danos irreversíveis a estas populações.
Embora oficialmente a construção da rodovia não esteja contemplada no PAC, ela assume a mesma lógica e adota o discurso do desenvolvimento redentor. A obra não considera as reais necessidades das populações urbanas próximas, dos moradores de assentamentos da região, das pessoas cuja renda provém da agricultura familiar, dos povos indígenas.
Diferente do que os defensores da estrada vêm propagando, os maiores beneficiários não serão estas populações, e sim os latifundiários, em especial os grandes produtores de soja do Mato Grosso, que terão os custos de transporte dos grãos reduzidos.
Os povos indígenas Javaé, Karajá, Avá Canoeiro e Cara Preta habitam a região. “Será um desastre para a cultura Karajá e Javaé, com a destruição da biodiversidade que existe no interior da Ilha. Tenho receio disso. Precisamos lutar sem cessar e sem medo”, declarou Kohalue Karajá, membro da Comissão Nacional de Política Indigenista.
Farsa sobre a estradaNo dia 24 de agosto foi realizada uma reunião em Formoso do Araguaia (TO) para expor dados técnicos sobre o projeto e as “justificativas de sua importância’’. ”Porta de entrada para o turismo, alternativa à geração de emprego, caminho para a instalação de rede elétrica, corredor de exportação, solução para o isolamento dos povos indígenas`. Estes foram alguns dos benefícios defendidos.
Nesta lógica, a estrada representaria para os povos indígenas um avanço ao facilitar o acesso entre as aldeias e aumentar a geração de renda das comunidades com a venda de artesanatos e a cobrança de pedágio. Mas o que não foi levado em consideração é o modo de vida de cada povo situado à margem da estrada, assim como os impactos que esta vai causar ao meio ambiente.
A Ilha do Bananal é considerada a maior ilha fluvial do mundo. Por abrigar o Parque Indígena do Araguaia, a terra indígena Iny-Webohona e o Parque Nacional do Araguaia (área de preservação ambiental), a região comporta uma rica biodiversidade e um ecossistema único.
Riquezas ameaças pela gana do capital. Para construção da rodovia, será necessária a construção de seis pontes e aterros com mais de dois metros de altura - já que a região é alagada pelas chuvas constantes. Serão trezentos milhões de reais investidos em uma obra sem consulta à população do seu entorno.
“Reafirmamos que a BR-242 não é de importância para o povo Javaé. Ela só interessa aos grandes empresários. Se esta estrada for construída acontecerão coisas ruins para o nosso povo, como alcoolismo, doenças, morte dos animais, prostituição, invasão de pescadores, traficantes e madeireiros”, defendeu a através de documento a comunidade Javaé, da aldeia Wari-Wari.
(Por Kariny Teixeira de Souza,
Conselho Indigenista Missionário, 17/10/2007)