O interesse manifestado por dois dos três grupos estrangeiros que se habilitaram à concorrência para a construção da plataforma petrolífera P-57 da Petrobras de trazer as obras de montagem da estrutura para o Estaleiro Rio Grande atestam o acerto da decisão do Estado de incentivar a criação de um pólo naval junto ao porto marítimo gaúcho.
Mostra também o reconhecimento dos dois grupos - o norte-americano Modec e o norueguês BW Offshore - de que Rio Grande está habilitado a concretizar o empreendimento que exigirá investimentos superiores a US$ 1,5 bilhão. Atualmente Rio Grande já abriga o processo de montagem da plataforma P-53, que ao final das obras irá operar no campo petrolífero de Marlim Leste, na bacia de Campos, no Rio de Janeiro. Esse empreendimento, de certa forma, sinaliza a capacitação do Estaleiro Rio Grande para enfrentar e vencer desafios do porte da construção das plataformas que a Petrobras está construindo e das outras que vai construir ao longo dos próximos anos, quando se intensifica a prospecção e extração de petróleo de profundidades cada vez maiores.
A P-57, com capacidade de produção de 180 mil barris de petróleo por dia e tratamento de 2 milhões de metros cúbicos de gás, será instalada no campo de Jubarte, também na bacia de Campos. Evidentemente que a escolha das empresas estrangeiras interessadas em construir as FPSO (sigla em inglês para sistema flutuante de produção, armazenamento e transferência de petróleo, geralmente construídos sobre um casco de navio) não ocorre de forma aleatória. Elas contam com a estrutura que está sendo montada em Rio Grande, a começar pela intensa preparação de mão-de-obra especializada à ampliação do Dique Seco que está sendo implantado no município da Metade Sul e que está projetado para atender a qualquer necessidade na construção e reparação de navios.
Com esses projetos industriais em andamento e mais a implantação de cerca de 300 mil hectares de plantio de florestas que deverão alimentar uma indústria de celulose projetada para a região, a Metade Sul deixa, definitivamente, de ser a porção economicamente esquecida do Estado. Mais do que isso, vencendo as resistências dos que atribuem malefícios ambientais ao cultivo do eucalipto, a região se prepara para retomar a importância econômica que já teve, quando construiu riqueza e desenvolvimento ao longo do ciclo do charque. Só que agora o progresso se dá de uma forma mais sustentável, com oferta de produtos e serviços que estão longe de ter esgotamento do ciclo de produção.
Deve encerrar-se, também, as eventuais pretensões de separação da Metade Sul do restante do Estado, defendidas em tempos anteriores por políticos que acreditavam que sozinha a região teria mais condições de desenvolvimento. Além de partir de premissas erradas, como se um movimento pudesse negar a importância histórica, econômica e social da Metade Sul, integrada e construída ao longo do tempo em esforço comum que serviu para consolidar o território gaúcho, certamente que, se fosse feita uma consulta, a maioria dos gaúchos não concordaria com a separação de seu território em duas partes distintas.
O reconhecimento da importância da Metade Sul, talvez com injustificado atraso, se revela na consolidação dos projetos que estão sendo destinados à região com merecimento e o amplo apoio de todos os gaúchos. A melhor maneira de integração, sem dúvida, é a que está ocorrendo pelo investimento no desenvolvimento econômico e social da Metade Sul. E é esse o processo que merece o apoio e o aplauso de todos que se preocupam com o Rio Grande do Sul e com o Brasil.
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JC-RS, 22/10/2007)