Nesta época, um sinal de alerta se acende nos quartéis de bombeiros de toda a região. Não só pelo calor que começa a dar as caras e secar o campo, tornando a vida mais fácil para a ocorrência de incêndios. O perigo iminente ganha o acréscimo de uma prática antiga, mas ainda muito usada: as queimadas. Donos de propriedades rurais, de terrenos baldios e até pessoas que querem "limpar" o acostamento das estradas aproveitam o clima ainda não tão quente e a vegetação ressecada pelas geadas do inverno para atear fogo e renovar a vegetação.
Esses meses de final de primavera e começo de verão fazem parte de um período que preocupa tanto quanto o final de inverno. Mas há uma esperança de que, agora, os bombeiros não sofram tanto quanto em agosto e setembro, quando foram registradas 135 ocorrências de fogo em campo. O número representou mais do que o total do resto do ano.
Conseqüências - Fogo em campo virou algo tão banal que muitas pessoas já nem dão mais bola para as conseqüências. Quando as queimadas são na beira de rodovias, além de prejudicar a visibilidade e o trânsito, lançam na atmosfera um forte cheiro de fumaça e gás carbônico, produto que é altamente prejudicial à camada de ozônio. Quando em áreas abertas, além da névoa preta dispensada no ar, as queimadas ainda colocam em risco a vida do ecossistema local e dão trabalho aos bombeiros. Fora isso, agravantes como o vento podem complicar ainda mais a situação.
- O vento é fator determinante. Ele leva o fogo para direções em que está soprando. Às vezes, quando estamos controlando de um lado, o vento conduz o fogo para outro. Além disso, faz com as chamas se propaguem de maneira rápida - salienta o comandante do 1º Subgrupo de Combate a Incêndio, capitão Gérson da Rosa Pereira.
Em agosto deste ano, as chamas e as rajadas de vento de até 80km/h destruíram cerca de 120 hectares da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro), no distrito de Boca do Monte. Pouco menos de um mês depois, o órgão foi atingido novamente por um incêndio. As causas ainda não foram descobertas.
- Geralmente, é o fator humano mesmo que faz isso. Alguém que ateou fogo em alguma área do local queimado. Para que a ponta de um cigarro comece um incêndio, é preciso que a vegetação esteja seca, que o vento esteja forte e que o calor seja intenso - explica o capitão Gérson, acrescentando que jogar a parte final dos cigarros em locais onde há vegetação, como campos e beira de estrada, é uma prática desaconselhável.
Mesma que a queimada seja uma opção rápida e barata para renovar o pasto ou acabar com aquele matagal indesejado, ela pode trazer prejuízos para seus adeptos.
- Segundo os códigos florestais Federal e Estadual, a prática de fazer fogo, por qualquer modo, em florestas e demais formas de vegetação, sem tomar as precauções adequadas, constitui contravenção penal (não chega a ser crime, mas o responsável tem de responder por isso na Justiça). As multas podem ser de R$ 1 mil, por hectare ou fração - avisa o capitão do Batalhão Ambiental da Brigada, Giovani Paim Moresco.
Para evitar que uma queimada cause transtorno e possa prejudicar áreas vizinhas, é necessária ajuda profissional
- É preciso conhecimento técnico e ajuda profissional para isolar a área. É o chamado fogo controlado - destaca capitão Gérson.
Estatísticas e conselhos
Chamadas atendidas pelos bombeiros para fogo em campo neste ano
- Janeiro - 9
- Fevereiro - 11
- Março - 7
- Abril - 10
- Maio - 6
- Junho - 21
- Julho - 25
- Agosto - 93
- Setembro - 42
Áreas com maior incidência na cidade
- Rodovias estaduais e federais
- Chácara das Flores
- Vila Maringá
- Km 2
- Itararé
- Camobi
Fontes: Corpo de Bombeiros de Santa Maria e Batalhão Ambiental da Brigada Militar
Tenha cuidado
- Nunca jogue tocos de cigarro no chão. O calor pode ajudar a provocar um incêndio
- Nunca coloque fogo em vegetações ou lavouras
- Nunca coloque fogo em lixos
- Se o fogo na beira da estrada causar fumaça, ligue os faróis do carro
- Se o fogo estiver perto de casas, molhe o terreno ao redor dela
- Se o fogo for na vegetação rasteira, tente apagar com galhos verdes
- O ideal é chamar os bombeiros para controlar as chamas. O telefone é o 193
- Quando for realizar alguma queima controlada para renovo de pastagem ou para limpeza de alguma área, procure antecipadamente os órgãos ambientais, o Corpo de Bombeiros e as Brigadas Civis
Susto
No final de junho, um incêndio em campo, mas dentro da cidade, assustou bastante. Foi dentro do Quartel do Parque, na Zona Oeste, e quase atingiu as casas na Nova Santa Marta. Foi por pouco, mas as chamas foram controladas a tempo
As chamas só trazem riscosNão bastasse o trabalho desnecessário que as queimadas de campo causam aos bombeiros, existem ainda as conseqüências para o ambiente. Conforme um estudo da UFSM, a queima de um hectare de campo nativo pode liberar de uma a três toneladas de gás carbônico no ar.
Apesar de acelerar o processo de decomposição da matéria orgânica (vegetação) e fazer com que a camada vegetativa se renove de maneira rápida, a prática das queimadas também pode ser perigosa. O risco de atingir uma vegetação nativa ou causar um desequilíbrio na fauna da região atingida pelo fogo são alguns exemplos de aspectos negativos gerados por incêndios propositais. Mesmo sabendo disso, e que a troca das pastagens acontece naturalmente, porém de maneira mais lenta, muitas pessoas insistem em atear fogo nos campos.
- É muito mais viável e barato e renova o pasto bem mais rápido. Quando não tem outro recurso, como em terrenos muito acidentados, esse é o único jeito - revela um líder rural que prefere não se identificar.
Alternativa - Quem quer colaborar com a preservação da natureza e dar descanso aos bombeiros pode aderir a práticas como o plantio de árvores nativas em meio à vegetação. Um estudo prévio pode ajudar o dono do terreno a escolher a planta que mais se adapta ao seu terreno.
- A copa das árvores protege a vegetação das geadas, que queimam o pasto. Além disso, pode servir de abrigo para o gado se proteger do frio - afirma o professor do Departamento de Ciências Florestais da UFSM, Mauro Schumacher.
O que diz A Lei
- Segundo os códigos florestais Federal e Estadual, a prática de fazer fogo, por qualquer modo, em florestas e demais formas de vegetação, sem tomar as precauções adequadas, constitui contravenção penal
- O Decreto Federal 2.661 estabelece que a queimada só pode ser feita de forma controlada e com autorização de órgão do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), com atuação na área onde será feita a operação. O órgão também informa quais os casos em que será possível a prática na área de plantio
Penalidade
- Segundo o Decreto Federal 3.179, fazer uso de fogo em áreas agropastoris sem autorização do órgão competente pode dar multa de R$ 1 mil, por hectare ou fração
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Diário de Santa Maria, 22/10/2007)