A Via Campesina diz haver indícios de que a empresa de segurança da multinacional Syngenta Seeds é “contratada de fachada”, e que funcionários são contratados “de forma ilegal, formando uma milícia armada que atua praticando despejos violentos e ataques a acampamentos na região”.
Um desses “ataques”, ocorrido neste domingo (21/10) em Santa Tereza do Oeste, no Paraná, resultou num confronto que causou a morte de duas pessoas, um militante do movimento (Valmir Mota) e um segurança (Fábio Ferreira). Outras ficaram feridas, algumas em estado grave.
A Via Campesina informou, através de nota oficial, que na última quinta-feira a denúncia da atuação de milícias armadas na região foi reforçada durante audiência pública em Curitiba. O movimento cobra da Justiça a apuração do fato ocorrido hoje.
A área da Syngenta, de onde famílias da Via Campesina haviam saído em julho, foi reocupada na manhã de hoje por cerca 150 pessoas do movimento, informa a nota.
“Na reocupação, os trabalhadores rurais soltaram fogos de artifício e os seguranças que estavam na fazenda abandoram o local. Por volta das 13h30, um micro-ônibus parou em frente ao portão de entrada e uma milícia armada com aproximadamente 40 pistoleiros fortemente armados desceu atirando em direção às pessoas que se encontravam no local. Arrombaram o portão, executaram o militante Valmir Mota com dois tiros, balearam outros cinco agricultores e espancaram Isabel do Nascimento de Souza, que encontra-se hospitalizada gravemente ferida”.
O investigador Miguel Zanella, da Polícia Civil de Cascavel, contou outra história, mas fez a ressalva de que só ouviu a versão dos seguranças. “Parece que os seguranças tinham sido rendidos pela manhã, quando houve uma troca de tiro. Depois voltaram e ocorreu o confronto. Mas é a versão deles”.
Ele disse à Agência Brasil que houve erro “para tudo quanto é lado”: “Da segurança, que não acionou a gente, e dos sem-terra, que estavam armados e reagiram”.
Sobre as armas utilizadas, contou que na delegacia havia apenas um revólver calibre 38, mas que no momento do crime, havia no local várias espingardas calibre 12, segundo os seguranças.
A Via Campesina diz que a ocupação, realizada inicialmente em março de 2006, tem o objetivo de denunciar o “cultivo ilegal de reprodução de sementes transgênicas de soja e milho”. E que a meta é transformar a área num “centro de agroecologia e de reprodução de sementes crioulas para a agricultura familiar e reforma agrária”.
(Por Julio Cruz Neto,
Agência Brasil, 21/10/2007)