Todd Landry, agricultor que, como por um milagre, faz aparecerem grandes lotes de cana-de-açúcar nas terras barrentas do sul da Louisiana, ultimamente vem lutando contra secas e geadas, além de furacões. Em janeiro, enfrentará mais um perigo: o aumento nas importações de açúcar do México. "Vai haver um fluxo de açúcar chegando pela fronteira?", questionou-se Landry com a fala arrastada do sotaque típico do sul dos EUA. "A sobrevivência nos preocupa a cada minuto". Landry e outros produtores de cana acham que encontraram um bote salva-vidas: o etanol.
Seguindo a lição dos agricultores do meio-oeste dos EUA, que aumentaram a produção vendendo milho para refinadoras de etanol, os agricultores de cana-de-açúcar e beterraba, de onde também se extrai açúcar, também querem seu próprio acordo de etanol, financiado pelos contribuintes norte-americanos.
Uma cláusula quase despercebida do novo projeto de lei do setor de agricultura a caminho do congresso obrigaria o Ministério da Agricultura a comprar o excedente de açúcar produzido internamente gerado em virtude da esperada entrada de açúcar mexicano no ano que vem. Em seguida, o governo o venderia, provavelmente a um desconto bastante significativo, para os produtores de etanol para que fosse acrescentado aos seus tanques de fermentação. A administração Bush é contrária à medida.
Os produtores de cana afirmam que o custo seria relativamente baixo e que o projeto ajudaria a manter os preços a um nível que consideram justo. Como efeito colateral positivo, o acordo permitiria que o país produzisse mais etanol para que fosse misturado à gasolina, eliminando uma parte da dependência do petróleo estrangeiro, como eles afirmam.
Posições contráriasNo entanto, os produtores de etanol não estão entusiasmados. Além disso, o projeto está provocando a ira de oponentes dos subsídios agrícolas e de antigos críticos da indústria do açúcar, que se queixam de que os produtores já possuem um dos melhores acordos da agricultura norte-americana.
"Trata-se de uma carga tributária sem benefícios que deturpa tanto o mercado de etanol quanto o mercado de ingredientes alimentícios", declarou Richard E. Pasco, consultor da Sweetener Users Association, grupo lobista que atua em prol das empresas alimentícias que utilizam açúcar. "E adivinha quem vai pagar o preço? Contribuintes e consumidores".
O Departamento Orçamentário do Congresso calcula o custo em US$ 660 milhões ao longo de cinco anos, relativamente barato em se tratando de projetos em agricultura. Contudo, essa é uma estimativa baseada em suposições sobre o quanto de açúcar entrará pela fronteira. O fato é que ninguém sabe ao certo.
ImpactoEstá em discussão uma proposta do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA), o grande pacto comercial lançado com o propósito de criar um mercado comum entre México, Canadá e Estados Unidos. Embora o NAFTA tenha sido implementado em 1993, algumas de suas propostas mais polêmicas só agora começam a vigorar.
Segundo uma delas, em breve os Estados Unidos estarão abertos a importações ilimitadas de açúcar do México, o maior racha, em anos, na muralha de subsídio de preço e protecionismo que o governo, em nome da indústria do açúcar, ergueu contra a concorrência estrangeira. A proposta em análise em Washington "poderia ser uma ponte para mais benefícios para o açúcar", diz Anthony Joe Judice, 61, que trabalha nas plantações nas águas lameadas de Bayou Teche. "É como um noivado em preparação para um futuro casamento".
A cláusula do etanol de açúcar obteve aprovação na câmara. Com o apoio do senador Tom Harkin, democrata de Iowa, presidente do Comitê de Agricultura, ela será aprovada no senado apesar da oposição do governo e do setor alimentício. A medida seria mesclada a uma antiga política do açúcar tão complexa que até mesmo muitos agricultores têm dificuldades de compreendê-la.
(New York Times, com tradução de Claudia Freire, Portal G1,
Ambiente Brasil 22/10/2007)