Em agosto deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou a liberação de R$ 1,04 bilhão para implementar um programa de enriquecimento de urânio em escala industrial. O projeto prevê o término da usina Angra 3 e a construção de outras sete em todo o País. Três delas estão previstas para o Interior do Estado de São Paulo, uma nas margens do rio Tietê, com possibilidade de uma central nuclear ser instalada em Barra Bonita (68 quilômetros de Bauru).
A intenção é dar margem ao crescimento do País. Para o presidente, esse tipo de energia pode ser considerada limpa e segura atualmente. Porém, para o engenheiro nuclear Augusto Brandão d´Oliveira, a aposta não vale o risco da ocorrência de um acidente que poderia inutilizar o Estado mais rico do País.
De acordo com o PHD. especialista em física nuclear, uma explosão num dos três reatores previstos para serem instalados em São Paulo traria impactos em todas as áreas. “Produziria milhões de mortes, causaria evacuação da área e tornaria o solo inutilizável para a agricultura durante de milhares de anos. Isso seria uma catástrofe que colocaria o País alguns séculos para trás, já que o Estado é centro da ciência e tecnologia do País e sede de um pólo industrial que concentra mais de 50% das riquezas do território”, argumenta.
Ele dá subsídio à sua teoria com dados referentes ao acidente de maior proporção na história, ocorrido em Chernobyl, na Rússia em 1986. “Foram duas explosões não nucleares. Menos de 2% do material contaminante foi espalhado pela atmosfera. A tragédia poderia ter sido maior, e mesmo assim contaminou 15 países europeus, causou 4 mil mortes segundo fontes oficiais, além da necessidade de evacuação e contaminação de 137 mil indivíduos”, conta.
Há muitos anos, não são registrados acidentes de grande proporções em usinas nucleares. Em face ao aquecimento global, diversos países investem nesse tipo de energia que não emite gases nocivos, mas produz lixo radioativo. A China pretende construir mais 30 usinas até 2020. A Índia anunciou oito, em cooperação com os EUA e a França (país que mais investe na área e tem 80% da energia proveniente de usinas nucleares). Técnicos da área garantem que a tecnologia empregada nesses novos reatores inviabilizariam um acidente como o ocorrido em Chernobyl devido ao novo sistema de refrigeração.
Apesar de admitir a baixa probabilidade de ocorrência de um acidente nuclear, o professor elenca fatores de risco. “A presença de um reator nuclear torna o País vulnerável a ataques de terroristas e guerrilheiros devido a conflitos regionais. Podem ocorrer até mesmo chantagens provenientes de organizações criminosas”, destaca. “Países como Alemanha e Itália baniram esse tipo de energia, algo que se torna uma tendência em toda a Europa”, completa o cientista, que afirma possuir registro de 30 acidentes nucleares em área civil e outros 50 em regiões militares pelo mundo.
O engenheiro nuclear integra um grupo contrário à instalação de usinas nucleares para geração de energia elétrica. Conforme d’Oliveira, o “Movimento Contra Usinas Nucleares” já somaria 16 mil assinaturas coletada nos municípios de Bauru, Araçatuba, Rio Preto, Fernandópolis e Votuporanga.
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JC, 21/10/2007)