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2007-10-22

Para enfrentar os efeitos da mudança climática é preciso o compromisso da sociedade na América Latina, afirmaram dois dos cientistas sul-americanos ganhadores do Nobel da Paz 2007. O físico argentino Osvaldo Canziani, membro do Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre Mudança Climática (IPCC) que na semana passada recebeu essa distinção norueguesa, disse à IPS que é necessária maior participação social no controle deste problema ambiental. É necessário acabar com a falsa contradição entre ciência e política, para que cientistas e governantes trabalhem em conjunto, e assim estes últimos conheçam os problemas que seus países enfrentam para instrumentar “tarefas e planos de longo prazo”, acrescentou.

“Quando os governantes falam que suas prioridades são saúde, educação e o bem-estar das pessoas, não levam em conta que, lamentavelmente, o aquecimento afeta tudo isso”, disse Canziani, co-presidente do Grupo de Trabalho II – Vulnerabilidade, Impactos e Adaptação à Mudança Climática do IPCC. Há necessidade de criar redes de observação e verificação permanentes que trabalham no monitoramento dos efeitos da mudança climática sobre cada país, e buscar possíveis soluções ou formas de mitigar esses impactos, afirmou.

“Deve-se recordar sempre que a falta de monitoramento e de informação previa leva à perda de vidas humanas”, disse Canziani. A “medida imediata e urgente” é conseguir a adaptação do ser humano às constantes mudanças de clima, “porém, para isso é preciso conhecer o entorno no qual nos encontramos, o que significa medir os recursos que temos”. Para isso, cada país deve melhorar suas medições sobre a modificação, treinar mais pessoal para que haja pesquisa, melhorar a capacidade desses especialistas, mas, sobretudo, não pretender importar coisas que são adaptáveis ao ambiente local, recomendou. Tudo isso deve estar acompanhado da defesa do patrimônio natural por parte dos governos e cientistas, porque do contrário o problema pode ficar cada dia mais crítico, acrescentou Canziani.

Para a também argentina Graciela Magrín – que coordenou o capítulo sobre América Latina do quarto informe do IPCC divulgado este ano – é fundamental que governos, instituições públicas e privadas, organizações sociais e entidades educacionais realizem ações permanentes para reduzir o impacto ambiental. “Não digo que as pessoas devem deixar de usar automóvel, mas pode-se reduzir seu uso, por um lado com melhor transporte público, e, por outro, tendo consciência de que, em lugar de utilizar o carro para transporte de apenas uma pessoa, o carro seja usado para transportar mais duas ou três”, afirmou.

A queima de combustíveis fósseis, como carvão, gás e petróleo, o desmatamento, a pecuária, entre outras atividades, provocam a emissão de gases que, como o dióxido de carbono prende o calor do sol na atmosfera, contribuindo para intensificar o efeito estufa natural. Esse processo, conhecido como aquecimento global, desatou a chamada mudança climática, segundo o consenso cientifico representado no IPCC.

Magrìn, agrônoma e especialista em meteorologia agrícola, afirmou que essas pequenas ações podem significar a diferença para o futuro, embora sempre seja fundamental que os países ricos reduzam sua contaminação com dióxido de carbono, sobretudo os Estados Unidos, país que é o maior emissor. Devido às mudanças climáticas, as costas da América do Sul estão em risco e pode-se perder para sempre diversas espécies vegetais e animais, acrescentou. No Equador, “cerca de 1.400 quilômetros de mangues correm risco de desaparecer”, disse, acrescentando que “se não forem aplicadas ações imediatas pode-se perder uma variedade de espécies, principalmente de peixes”, em toda a região.

Canziani também alertou para o surgimento de numerosos migrantes ambientais, já que o retrocesso das costas afetará áreas urbanas. Magrín divulgou os resultados mais importantes do informe do IPCC e disse que “o clima já mudou e isso causou um aumento médio do nível do mar entre 10 e 20 milímetros por século. Isto não é alarmante, porém, calcula-se que para os próximos cem anos o aumento médio do nível do mar será de quatro milímetros anuais, isto sim representa um problema para as futuras gerações”, assegurou a especialista.

Existe a necessidade de organizar e participar da sociedade civil para enfrentar este desafio, acrescentou Magrín. Trata-se de uma “mudança global, isso implica utilizar todas as ferramentas e integrar todos os setores”, insistiu. Canziani e Magrín participam do Encontro Internacional Clima Latino, que começou segunda-feira e termina hoje na costeira cidade de Guayaquil e em Quito, organizado por esses dois municípios e pela Comunidade Andina de Nações.

Ana campos, especialista colombiana em desastres naturais, afirmou que alguns fenômenos climáticos que afetam a América do Sul nos últimos anos se tornaram mais freqüentes e agressivos, como El Nino, a fase quente da Oscilação do Sul (ENOS) no oceano Pacifico. A seu ver, “é produto da contaminação que está afetando e acelerando todo o aquecimento global, exacerbando a freqüência e recorrência dos fenômenos e mudando um pouco a dinâmico. Não temos apenas fenômenos mais fortes, mas mais recorrentes”, assegurou. No Equador, a última presença de El Niño ocasionou tempestades, inundações e deslizamentos, com perda de vidas humanas e efeitos negativos na economia.

Segundo Ana Campos, antes o El Niño se apresentava em ciclos de 12 a 20 anos, mas agora aparece a cada sete ou oito anos, como a fase fria do ENOS, conhecida como La Nina, que provoca secas. “O crescimento industrial e todos os esquemas equivocados de desenvolvimento que temos estão afetando a dinâmica da natureza”, ressaltou. É preciso trabalhar muito mais com a população em esquemas de sensibilização sobre as conseqüências da mudança climática e a urgência de reduzir a vulnerabilidade regional, insistiu.

(Por Kintto Lucas, IPS, 19/10/2007)


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