Ao longo da maior parte da história humana, o Oceano Ártico representou sempre uma fronteira bloqueada pelo gelo. Mas agora, em um dos mais concretos sinais do efeito do aquecimento global sobre as operações do governo, a Guarda Costeira dos Estados Unidos está planejando instalar sua primeira base na região, como maneira de fornecer apoio aos navios de turismo e petroleiros que já começam a utilizar aquelas águas.
Dadas as temporadas cada vez mais longas em que as águas do Ártico estão abertas à navegação, a Guarda Costeira deu início a discussões com as autoridades russas sobre o controle do tráfego naval previsto para o Estreito de Bering, que até recentemente costumava ser cruzado apenas por navios quebra-gelos de pesquisa hidrográfica e embarcações nativas de caça a focas e leões marinhos.
A Guarda Costeira informou que sua base, a qual provavelmente será instalado perto da mais setentrional das cidades norte-americanas, Barrow, no Alasca, na região costeira conhecida como North Slope, seria operada sazonalmente e inicialmente disporia apenas de um helicóptero equipado para operar em regiões de frio extremo, bem como diversos barcos de pequeno porte.
Mas, caso o aquecimento continue, a base de pequenas dimensões, que deve entrar em operação no segundo trimestre de 2008, poderia ser expandida, mais tarde, a fim de ajudar a acelerar a resposta a derramamentos de petróleo por navios-tanque, os quais, na estimativa da Guarda Costeira, em breve começarão a transportar petróleo da Ásia para a Escandinávia pela rota do estreito de Bering.
Essa rota polar que sempre foi muito desejada pelas linhas de navegação- reduziria em 8 mil km ou mais uma jornada que, de outra maneira, envolveria passagem pelo Canal do Panamá ou pelo Canal de Suez. A Guarda Costeira também está preocupada com a sua capacidade de resposta a emergências que envolvam navios de turismo, os quais já estão começando a operar em certas áreas do Oceano Ártico, durante o verão.
E, em mais uma atividade que é novidade para a região, a Royal Dutch Shell está se preparando para prospectar petróleo com plataformas ao largo da costa ártica do Alasca, a partir do ano que vem. "Não estou certo de que eu esteja qualificado para falar sobre as questões científicas relacionadas ao aquecimento global", disse o comandante da Guarda Costeira, almirante Thad Allen, em entrevista. "Tudo que sabemos é que somos responsáveis por um ambiente operacional, e ele está mudando".
O comandante da Guarda Costeira no distrito do Alasca, contra-almirante Arthur Brooks, disse em entrevista por telefone que a expansão das águas abertas no verão, quando o calor força o recuo do gelo, significa que "quase tudo que os Estados Unidos fazem poderá ser feito no Ártico, acreditamos".
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The New York Times, tradução: Paulo Eduardo Migliacci- TERRA, 21/10/2007)