Informações do governo federal indicam crescimento de 107% no desmatamento em Mato Grosso, entre junho e setembro deste ano, comparado ao mesmo período do ano anterior. Em Rondônia, o índice é de 53% e, no Acre, de 3%. Já o Sistema de Alerta do Desmatamento (SAD), elaborado regularmente pelas organizações não-governamentais Imazon e Instituto Centro de Vida (ICV), mostra que o corte em Mato Grosso subiu pelo quarto mês consecutivo: 262 quilômetros quadrados, 147% a mais do que agosto de 2006.
Frente aos números, o Plano de Combate ao Desmatamento da Amazônia, que passa atualmente por revisão para divulgação em 2008, foi desmembrado em três momentos. O primeiro, de curtíssimo prazo, prevê ações de comando e controle ainda neste ano, especialmente no Pará, em Mato Grosso e Rondônia. Procurado pela reportagem, o Ministério do Meio Ambiente não se pronunciou para detalhar quais seriam as ações e estratégias a serem adotadas.
Duas frentes principais do Plano de Combate ao Desmatamento, lançado há três anos, tiveram resultados positivos. A primeira foram as ações de comando e controle, que desarticularam quadrilhas especializadas em grilagem e exploração ilegal da madeira. Outra foi a criação de unidades de conservação em áreas que sofrem grande pressão de grileiros e madeireiros, como a Terra do Meio, no Pará.
FatoresEspecialistas e ambientalistas dizem ser relativo o sucesso dessas medidas. O lançamento do plano coincidiu com uma queda no preço das commodities, especialmente a soja, e com uma rejeição estrangeira ao gado brasileiro por causa da febre aftosa.
Para Paulo Barreto, do Imazon, uma das estratégias para resolver o problema seria uma responsabilzação efetiva do desmatamento. "Não adianta ter muitas multas não arrecadadas. Faz mais sentido focar no recebimento das multas mais altas e inibir práticas predatórias" explicou.
Barreto endossa a relação entre o aumento do desmatamento e a subida dos preços da soja e do gado. "Entre 2004 e 2006, a soja caiu 46% e o preço do gado se desvalorizou em 18%". Segundo o pesquisador, há estudos comprovando a ligação do aumento da pecuária na Amazônia com o desmatamento: 80% da área desmatada acaba servindo para pasto, finalizou.
O governo, que negava a influência econômica, agora assume seu papel na dinâmica da retomada do desmatamento em 2007. Para o Ministério do Meio Ambiente, o aumento dos preços das commodities é um dos motivos que transformaram este em um ano complicado - além da seca prolongada observada na região Norte, que estende o período propício para o corte e a queimada das árvores.
(Por Charles Nisz,
Amazonia.org, 16/10/2007)