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celulose e papel guerra das papeleiras
2007-10-19
Desde conversas informais entre amigos até o número de inscritos para o curso técnico de uma escola pública. A quadruplicação da planta da Aracruz Celulose no município de Guaíba (RS), na Região Metropolitana de Porto Alegre, está fomentando a expectativa de geração de empregos na região. Trata-se de um investimento de US$ 1,2 bilhão, com previsão de gerar cem empregos diretos, que espera passar de 450 mil para 1,8 milhão de toneladas a produção de polpa de celulose por ano.

Em Guaíba funciona um dos três cursos técnicos em Celulose e Papel do país – os outros dois estão no Paraná e em São Paulo. Oferecido por uma escola pública, o Instituto Estadual de Educação Gomes Jardim, no Centro da cidade, o curso tem registrado número recorde de inscritos nas duas últimas seleções, para 2006 e para 2007. No ano passado, quando foram oferecidas 35 vagas, houve 943 inscritos, uma média de 27 candidatos por vaga. Para o processo seletivo deste ano o número de inscrições foi ainda maior: aproximadamente 1,3 mil candidatos para 40 vagas.  

Mercado restrito
O curso foi criado em 1979 e forma uma média de 20 alunos por ano. Resultado de uma parceria entre o governo do Estado (que cede o espaço físico) e a empresa (que oferece os professores e banca os salários deles), tem duração de dois anos e ocorre no turno da noite. No primeiro ano, as aulas acontecem na escola. No segundo, são realizadas dentro da Aracruz, onde os onze professores que ministram as aulas trabalham.

O coordenador do curso, engenheiro industrial mecânico e consultor técnico da Aracruz, Francisco Braga Giacobbo, afirma que a empresa procura priorizar, nas contratações, os alunos que possuem tal formação. “Os bons alunos conseguem vaga”, assegura. Segundo ele, o curso não prepara somente para a indústria de celulose, mas também para a indústrias de produtos químicos que existem na região. Porém, há entraves. E um deles é que a geração de empregos no setor no Rio Grande do Sul não vai de vento em popa. “O mercado aqui na região Sul é meio restrito, mas Santa Catarina e Paraná têm muitas indústrias de papel de celulose”, alerta. De acordo com Giacobbo, mais da metade do corpo técnico da empresa é oriundo do curso. “A preferência é pela mão-de-obra local.”

Empregos X preservação
“Penso que é preciso evoluir, crescer e que esse tipo de ação, ou melhor, de obra, gera muitos empregos. Mas tenho um pouco de preocupação sobre como será organizada essa obra e até que ponto a natureza será preservada.” A opinião é da professora de Letras Jéssica Chacon, que leciona em três escolas públicas do município.

O paradoxo geração de empregos versus preservação do meio ambiente frente à ampliação da produção de celulose na unidade da empresa em Guaíba também preocupa a estudante de Biologia Karine Didio. “Existe sim pontos positivos que é a criação de novos empregos, mas como estudante de Biologia olho principalmente os prejuízos que a Aracruz vem trazendo para o meio ambiente. A gente discute muito isso na faculdade e o que sempre se vê é que esses investimentos não compensam o estrago que fica na questão ambiental”, reflete.

Ela conta que conhece moradores que buscaram o curso técnico em Celulose e Papel do Instituto Gomes Jardim justamente devido à notícia da ampliação. “Tem gente fazendo o curso técnico contando certo com uma vaga lá dentro. As pessoas estão achando que todo o município vai ter emprego garantido.”

(Por Débora Cruz, Ambiente JÁ, 19/10/2007)

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