Santa Maria - O arroio Cadena não está morto. Pelo contrário. Dá sinais de vida, com pelo menos quatro espécies de peixes e tartarugas habitando suas poluídas águas. Eles são os habitantes remanescentes do córrego que corta a cidade e que há décadas é castigado pela ação do homem e lançamento de esgoto oriundo de ligações clandestinas. A notícia de que o Cadena ainda “respira” foi dada por duas biólogas da Universidade Regional Integrada (URI) de Santiago, voluntárias da Secretaria de Município de Proteção Ambiental.
Lucele Zanini, 24 anos, e Francele Puiati, 22 anos, estão literalmente pescando no arroio, desde a última terça-feira. Elas realizam um trabalho que irá balizar laudo a ser emitido pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam). O objetivo é identificar quais as espécies existentes no local para fundamentar relatório que será entregue à Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam). Órgão necessita da pesquisa para emitir a licença ambiental que irá liberar o início das obras de canalização do arroio, desde o Largo da Viação Férrea até a vila Urlândia. Os recursos virão do Governo Federal, financiados pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Espécies como o Cascudo Viola, Lambari do Rabo Amarelo, Peixe Cachorro e o Cará foram parar na malha das redes que estão sendo lançadas no arroio, desde terça-feira. Os animais dividem espaço na água com restos de lixo, dejetos, resíduos orgânicos e produtos químicos lançados diariamente ao longo do curso do arroio. O laudo sobre a fauna aquática do Cadena está sendo realizado, nesta primeira etapa, no trecho da sanga que passa pelos fundos do Beco Maria Loureiro Ilha - popularmente conhecido como o Beco do Guarany, no bairro Salgado Filho, zona Norte da cidade.
Os exemplares coletados estão sendo colocados em recipientes com formol e serão analisados em nível taxonômico menor, de gênero e espécie. A avaliação será feita através da medição do animal, tamanho das barbatanas, cor, entre outros critérios. "Dentro de uma semana a análise estará concluída", afirmam as biólogas, que farão o trabalho em laboratório. Os moradores também auxiliam na ação. Eles cuidam das redes durante a noite e também fornecem informações sobre alguns peixes que já viram no lugar.
Lucele Zanini disse ter ficado surpresa com a quantidade de espécies descobertas no trecho do arroio, em se tratando de um dos pontos com maior grau de poluição do córrego na cidade. “São peixes que apresentam grande resistência à poluição. Mas em outros tempos, quando o rio tinha ‘saúde’, certamente abrigou cerca de 20 diferentes espécies de peixes e tartarugas”, comentou a biológa.
A pesca dura 24 horas, com três coletas a cada oito horas, numa extensão que percorre de 150 metros de comprimento e 15 metros de largura do córrego. As redes utilizadas são de malha um, um e meio, dois, três e quatro. Dois funcionários da Secretaria de Município de Proteção Ambiental auxiliam o trabalho das biólogas, que é acompanhado por moradores da região e curiosos.
Hoje pela manhã, serão realizados os últimos lançamentos de redes no arroio. As biólogas acreditam que o fato de ainda existir diferentes espécies na fauna aquática do Cadena, que o arroio pode ser recuperado, voltando a ser o que era há 40 anos. Mas tudo passa pela educação ambiental das comunidades ribeirinhas e pela fiscalização em cima dos agentes poluidores.
“É importante que haja essa conscientização e que os agentes públicos façam a fiscalização, caso contrário, mesmo com a canalização, o Cadena vai morrer”, concluiu Francele Zanini. Ela é a entrevistada de hoje do programa Bom Dia, Cidade, da Rádio Santamariense. O programa vai ao ar, pela 630/AM, das 6h às 8h. (*Com informações da Assessoria de Imprensa da Prefeitura Municipal de Santa Maria).
(Por Fabricio Minussi,
A Razão, 19/10/2007)