Uma perda considerável do rebanho brasileiro tem suas causas na escassez de pastagem e na dificuldade de eliminação de plantas que podem causar intoxicação. Embora não haja estatísticas nacionais, especialistas da Embrapa Gado de Corte dizem ser significativo o percentual de mortes de bovinos no país causadas por sementes, folhas ou raízes com concentração elevada de elementos químicos que fazem mal ao gado.
No Rio Grande do Sul, avaliações laboratoriais mostram que, entre as causas de óbito de ruminantes, cerca de 10% são ocasionadas pela ingestão de plantas tóxicas, provocando a morte de aproximadamente 70 mil bovinos ao ano. O impacto econômico chega R$ 52,5 milhões se considerado o valor atual de um animal comercial, com até dois anos de idade, peso de 300 quilos e valor do quilo vivo de R$ 2,50.
Ruminantes são mais suscetíveis à intoxicação devido a seus hábitos alimentares, especialmente a rápida deglutição, gustação quase inexistente e digestão lenta que favorece a absorção de toxinas. Segundo Carlos Simm, coordenador da Comissão de Bovinocultura de Corte da Federação da Agricultura do Estado, o manejo correto e o acesso à informação vêm colaborando para a redução do problema. Mas o grau de empenho na tarefa está diretamente ligado à capitalização do produtor, pois o controle tem custo, admite.
Simm enfatiza que, em geral, os animais somente ingerem plantas tóxicas quando estão com fome, uma situação de escassez de forrageiras. Por isso, as mortes causadas por plantas são freqüentemente relacionadas ao inverno, a períodos secos, à superlotação ou a longos transportes. Algumas vezes, a ingestão pode ser involuntária, principalmente por meio de feno ou resíduos de grãos contaminados.
Entre as plantas de maior impacto econômico para a bovinocultura da Região Sul estão maria-mole, samambaia, timbó ou maria-preta e a mascagnia sp, responsável por abortos e por uma doença cardíaca que pode causar morte súbita, manifestações de inchaço no peito, cansaço, diarréia e morte. Como a maioria das doenças não tem tratamento nem cura, é preciso saber como evitar que os animais tenham acesso a essas plantas, explica Rosecler Alves Pereira, doutora em Medicina Veterinária Preventiva, integrante do Colégio Brasileiro de Patologia Animal.
Para prevenir, é necessário o manejo de pastagens e o cercamento de áreas infestadas, como bosques e matas. Os técnicos alertam que os produtores devem ficar atentos a sintomas como fraqueza e diminuição ou perda de apetite. Também afirmam que o problema pode ser antecipado ou intensificado pelo exercício físico.
- O diagnóstico de intoxicação por plantas em animais exige conhecimento técnico, principalmente com relação aos sinais clínicos e às lesões produzidas. Para isso, é de extrema importância que o produtor, ao observar animais doentes, procure orientação técnica: um médico veterinário ou agrônomo deve analisar clinicamente os animais e avaliar o cenário na propriedade - avisa Rosecler.
Fique alertaPara observarAlgumas das principais plantas tóxicas no Rio Grande do Sul e os sinais clínicos nos animais:
- Mascagnia sp: alterações cardíacas, respiratórias e neuromusculares com morte súbita.
- Maria-mole: comportamento agressivo, emagrecimento progressivo, diarréia e sinais agudos antes da morte.
- Samambaia: doença hemorrágica de caráter agudo e duas doenças crônicas, tumores do trato digestivo superior e na bexiga.
- Timbó ou maria-preta: cegueira, apatia, andar cambaleante e quadro cardíaco com morte súbita após movimento.
Fontes: Rosecler Alves Pereira, com base nos livros Plantas tóxicas do Brasil, de J. Döbereiner e C. B. Tokarnia, e Doenças de Ruminantes e Eqüinos, de F. Riet-Correa, A. L. Schild e M. C. Méndez
Para controlar- Herbicidas: o uso de produtos químicos é dispendioso, embora eficaz.
- Corte manual: demanda mão-de-obra, que seria antieconômico, exceto em áreas menores e de maior infestação de plantas.
- Roçadeira: usado em pastagens cultivadas, a prática é paliativa, pois a planta tóxica logo pode vir a rebrotar, e o problema tende a se agravar.
- Manejo de pastagens: evitar o excesso de lotação pode reduzir a incidência de intoxicação: os animais selecionam plantas forrageiras quando não há restrição alimentar e pastagens não-degradadas têm menor infestação de plantas invasoras e tóxicas.
Fonte: Embrapa Gado de Corte(
Zero Hora, 19/10/2007)