O atrito entre o Ministério Público Federal e a Polícia Federal é um capítulo seguinte a outro mal-estar envolvendo poderes e a investigação da Moeda Verde. Em julho, a Justiça Federal e o próprio MPF divergiram. A razão envolveu o procurador da República Walmor Alves Moreira, responsável pelo início da investigação em suspeitas de irregularidades em licenças ambientais para grandes empreendimentos. Walmor acabou afastado do caso por decisão do juiz da Vara Federal Ambiental, Zenildo Bodnar. O magistrado acolheu pedido do empresário Paulo Cezar Maciel, dono do Shopping Iguatemi e um dos 22 indiciados pela PF. Paulo Cezar argumentou que Walmor não teria isenção para atuar no inquérito. O juiz acatou o recurso e o impediu de atuar na apuração. Os colegas não aceitaram o afastamento e saíram em defesa de Walmor, revelando situações que atingiriam a PF, como o vazamento da operação e suposta sonegação de informações sobre a investigação (pedidos de novas escutas telefônicas) ao MPF.
O procurador João Brandão manteve a versão de um vazamento de informação no dia 9 de novembro de 2006 e disse que basta o juiz liberar a gravação telefônica para ser conhecida a origem.
"Marcílio Ávila sabia da operação"
No relatório final enviado à Justiça, a Polícia Federal faz menção ao fato de o então vereador e presidente da Santa Catarina Turismo (Santur), Marcílio Ávila, ter conhecimento prévio da operação deflagrada dia 3 de maio deste ano. A delegada afirmou que, durante a busca e apreensão em sua casa naquele dia, foram encontrados documentos queimados na churrasqueira.
Outro sinal que saberia da ação, acredita a delegada, é o fato de Marcílio ter viajado naqueles dias – estava em viagem oficial na Argentina – evitando, assim, a prisão. Depois, teve a prisão preventiva decretada e se entregou à polícia. De acordo com os autos da Moeda Verde, Marcílio seria responsável pelos encaminhamentos do Floripa Shopping, também suspeito de receber favorecimentos ilícitos para abrir as portas. O político é suspeito de exercer tráfico de influência junto aos órgãos públicos municipais. Em depoimento à PF, ele negou.
Ontem, Marcílio reafirmou inocência e disse que os materiais queimados na churrasqueira eram documentos contábeis antigos de sua loja. “Eu não quero entrar nessa dividida entre a PF e o MPF. Já fui prejudicado demais.”
O diálogo comprometedor
A conversa que insinua conhecimento da operação gravada pela Polícia Federal em 22/9/2006, às 21 horas.
Marcílio Ávila – “Tava na audiência até agora com o doutor Jaime!”
Juarez Silveira – “Aonde?”
Marcílio – “Na... Justiça Federal, no ajuste de conduta do Carlos! Lá, do Shopping!”(referindo-se a Carlos Amastha, ex-dono do Floripa Shopping).
Marcílio –“Sabe o que o doutor Walmor falou agora? Que pediu pra Ufeco (União Florianopolitana das Entidades Comunitárias) mostrar a declaração do imposto de renda deles! E dos bens deles. Sabe por quê? O doutor Walmor andou grampeando, parece, junto, a determinação da Justiça, né? O telefone da o... de todos os diretores da Ufeco, daquele pessoal todo. Já tá tudo na PF. Envolvimento, tudo. Vai estourar uma bomba aí da Ufeco gigantesca!”
Juarez – “Que bom!”
Marcílio – “Walmor e Zenildo, esse juiz novo que chegou, fizeram uma devassa.
Juarez – “Não pegando o nosso, o resto tá tudo certo!”
Fonte: autos da Moeda Verde
(
A Notícia, 19/10/2007)