Um estudo da organização sem fins lucrativos Imazon mostra que o desmatamento aumentou pelo menos dez vezes nas áreas protegidas - terras indígenas e áreas de reservas estaduais e federais - no Estado do Pará no último ano em relação ao ano anterior.
No período entre agosto de 2006 e julho de 2007, 24% do desmatamento ocorreu nessas áreas protegidas - 411 quilômetros quadrados, de um total de 1.726 quilômetros quadrados em todo o Estado.
No período anterior - o desmatamento é sempre medido entre agosto e julho por causa do ciclo das chuvas - a derrubada de árvores em áreas protegidas era inferior a 50 quilômetros quadrados, segundo o biólogo Adalberto Veríssimo, pesquisador sênio do Imazon e um dos responsáveis pela pesquisa.
"O desmatamento migrou para as áreas protegidas, o que foi a maior surpresa desse relatório", afirmou Veríssimo à BBC Brasil.
"Imaginava-se que, com a criação de vários parques a partir de 2005, o desmatamento seria contido, e isso de fato aconteceu num primeiro momento, mas agora ele voltou com muito mais força do que pensávamos", disse ele.
"Antes o desmatamento chegava na porta das áreas de preservação e parava. Agora mudou", afirmou.
O que está acontecendo agora, diz o pesquisador, é uma guerra de força na qual os que promovem o desmatamento estão "testando o governo" para ver se o Poder Público será capaz de colocar em prática a proteção que já existe no papel. "O governo criou as áreas de proteção, mas não tomou conta", afirma.
O dado de agosto deste ano é ainda mais alarmante: mostra que 65% do desmatamento ocorreram em áreas protegidas, dos quais 38,3% em terras indígenas. Esse número ainda deve ser revisado, no entanto, porque uma parte do Estado não pôde ser visualizada pelos satélites de monitoramento por causa da grande quantidade de nuvens no céu do Pará em agosto.
De acordo com o pesquisador, essa falha na leitura por causa das condições meteorólogicas pode ser responsável por parte da redução do desmatamento no Estado em agosto.
Em relação ao mesmo mês do ano anterior, o Imazon apurou uma redução de 54% na área desmatada. Cerca de 10% do território do Estado não puderam ser monitorados, uma área ao longo da calha do rio Amazonas entre Santarém e Portel, onde normalmente ocorre desmatamento.
"Precisamos esperar o dado de setembro para ter certeza se realmente houve uma redução tão grande", explica Veríssimo.
Os dados constam do primeiro boletim Transparência Florestal do Estado do Pará, uma iniciativa liderada pelo Imazon utilizando dados gerados pelo Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) desenvolvido pela organização e dados fornecidos pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Especiais) por meio do Programa de Monitoramento da Amazônia (Prodes) e dados de focos de queimadas do Inpe.
O Imazon é uma organização sem fins lucrativos, com sede em Belém, que produz pesquisas e projetos de sustentabilidade na região amazônica, com financiamento público e privado tanto brasileiro quanto do exterior.
A entidade vai assinar nesta sexta-feira um acordo de cooperação com a Secretaria de Meio Ambiente do Estado do Pará para atuar de forma conjunta em projetos para tentar conter o desmatamento. "A idéia é ajudar o Estado a ser mais atuante. Queremos que o Estado brasileiro funcione melhor", afirma o pesquisador.
Este é o primeiro relatório do Imazon sobre o Pará, que a partir de agora será mensal. A entidade já faz um trabalho semelhante em relação ao Mato Grosso.
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BBC, 18/10/2007)