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2007-10-18

O setor de energia eólica está em franca expansão mundial e dá seus primeiros passos no Brasil, onde o potencial energético total é de 143 mil megawatts – praticamente o dobro da potência instalada atualmente no país. Mas a inovação tecnológica é o principal obstáculo para o desenvolvimento do setor, de acordo com Ivonice Campos, diretora executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEE).

“Temos muito ainda a fazer do ponto de vista tecnológico para tornar a energia eólica competitiva. Precisamos desenvolver tecnologias de torres, de pás, geradores e componentes”, disse à Agência Fapesp a engenheira, que também é secretária executiva do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap).

Segundo Ivonice, o setor está em plena expansão: em 2006, dos US$ 70 bilhões investidos no mundo em energias renováveis, 35% corresponderam à energia eólica. “O Brasil tem uma grande vantagem competitiva no setor, por ter 70% da população concentrada na faixa litorânea. E nosso maior potencial está nos litorais do Sul e do Nordeste, exatamente nas extremidades do Sistema Interligado Nacional de energia”, disse.

O principal obstáculo, segundo ela, é o desenvolvimento tecnológico visando à competitividade, com redução de custos e implantação da fabricação dos equipamentos no Brasil. “A tecnologia de inovação é o principal vetor para o desenvolvimento do setor eólico”, afirmou.

De acordo com a engenheira, diversas iniciativas estão sendo tomadas em universidades e centros de pesquisa brasileiros para o setor. A mais nova delas é o Centro de Excelência em Energia Eólica inaugurado no último dia 8 pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS).

“O centro conta com novas instalações, instrumentos e túneis de vento para avaliar o desempenho de turbinas eólicas e calibrar sensores que medem a velocidade do vento”, disse.

O centro já apresentou resultados do desenvolvimento de novos modelos de turbinas eólicas de eixo vertical com a instalação de uma unidade para testes em Imbé, no Rio Grande do Sul. A turbina tem um rotor que trabalha com o vento em todas as direções, além de ter um gerador elétrico, fixado no nível do solo, facilitando o acesso à manutenção.

“O Brasil já tinha um Centro Nacional de Energia Eólica, com características semelhantes, na Universidade Federal de Pernambuco. As iniciativas não param de aparecer em todos os estados”, destacou.

Segundo Ivonice, na inauguração do centro da PUC-RS a ABEE solicitou a ativação da Rede Brasileira de Tecnologia Eólica. “Atualmente, São Paulo tem dado uma contribuição decisiva, principalmente com a Universidade de São Paulo (USP), reunindo pesquisadores de diversas áreas”, disse.

Segundo ela, a USP desenvolveu um projeto de energia eólica offshore de 10 mil megawatts, no mar do Ceará – um empreendimento do porte equivalente ao de Itaipu. “Nesse projeto se pretende colocar aerogeradores de 5 megawatts, cuja tecnologia altamente inovadora o Brasil ainda não tem, porque está em processo de desenvolvimento”, disse.

Ivonice aponta que a engenharia de materiais é um dos principais focos de pesquisa no setor, sendo fundamental para a definição das estruturas e design das torres. Outro foco é a questão de eficiência energética propriamente dita, reduzindo perdas dos sistemas de transmissão.

“Precisamos também criar modelos de pás e geradores apropriados para aproveitamento das características das jazidas eólicas em cada local. Cada região tem características diferentes de vento, de topografia e de complementaridade energética com outras fontes em cada local.. Combinando diferentes fontes, consegue-se gerar o ano inteiro”, afirmou.

Além da tecnologia, o desenvolvimento do mercado de energia eólica no país precisa, segundo Ivonice, de uma mudança nas modalidades contratuais. “Precisamos de um modelo semelhante ao das hidrelétricas, com prazos de contratos de 20 a 30 anos, com realização de contratos em blocos anuais. As condições de financiamento também devem ser semelhantes às das hidrelétricas”, disse.

(Por Fábio de Castro, Agência Fapesp, 17/10/2007)


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