Editorial:A admissão pelo ministro da Saúde, José Gomes Temporão, de que o Brasil enfrenta uma nova epidemia de dengue serve de alerta para a necessidade de mobilização total contra a doença, mesmo em Estados como os mais meridionais, onde o número de casos é ainda o menor do país, mas também onde proporcionalmente mais aumenta. Além de estar "levando uma surra" do mosquito da dengue, como advertiu o próprio ministro, o país está sendo surpreendido pela capacidade de adaptação do Aedes aegypti, duas razões para que o problema seja enfrentado com mais eficiência, de forma menos rotineira e burocrática.
Um aspecto preocupante é que o problema não está mais relacionado apenas à prevenção, mas também ao atendimento dos casos registrados, devido às dificuldades enfrentadas para identificação e tratamento da doença, especialmente em sua forma hemorrágica. Por isso, o enfrentamento da questão precisa se dar em duas frentes. Uma delas é a necessidade de as campanhas de esclarecimento encontrarem uma linguagem adequada para conscientizar também as faixas da população de menor renda e, de maneira geral, com menos acesso a informações. A outra é que as três instâncias da federação precisam se articular melhor nessa área.
Doença típica de um passado que parecia ter ficado para trás, a dengue ataca indistintamente em todas as classes sociais. São as faixas de menor renda, porém, que mais ficam expostas, devido à dificuldade de alertá-las para os riscos e à precariedade enfrentada na área de infra-estrutura, que facilita a propagação do mosquito, vetor da dengue e, ao mesmo tempo, transmissor da febre amarela.
Quando a situação atinge os níveis enfrentados hoje, é difícil imaginar que seja possível resolvê-la de um momento para o outro. Cada vez mais, porém, o país precisa aliar vontade política com recursos e ações realmente capazes de conter o avanço da doença.
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Zero Hora, 18/10/2007)