Ao conceder a honraria da Paz compartilhadamente, o Prêmio Nobel fez justiça com o qualificado grupo de centenas de cientistas de diversas nacionalidades que se abrigam no IPCC, órgão da ONU que tem alertado a humanidade sobre a relação entre a atividade humana e os problemas ambientais, e também fez merecida justiça com Al Gore pela sua Uma Verdade Inconveniente.
Mas, e talvez o mais importante, o Nobel da Paz reforçou a importância da luta contra o cenário sombrio do aquecimento global que os relatórios do IPCC denunciam.
Aqui no Sul, as secas poderão ser mais freqüentes e intensas, com riscos à produção de grãos e de aumento do êxodo rural. No nosso Estado, já foi constatada elevação da temperatura superior a um grau nos últimos anos, aumento de ondas de calor, noites mais quentes, diminuição dos dias de geadas severas, menor quantidade de dias seguidos sem chuva e maior número de dias com chuva consecutiva. Tudo em um quadro revelador de que o Rio Grande do Sul tem vivido as piores estiagens de sua história e, ao mesmo tempo, sofrido com chuvas, mais intensas e concentradas em estações não tradicionais, que castigam as populações e produzem grande impacto social nos bairros mais pobres. Culturas de verão como soja e milho podem sofrer pela diminuição de água no solo de determinadas regiões gaúchas.
É preciso, pois, adaptar o calendário agrícola às alterações climáticas, incentivar novas culturas e o uso de cultivares de ciclos diferentes associado à conservação das matas e à recuperação das áreas de vegetação à beira de rios e nascentes, armazenar água, fortalecer as instituições de pesquisa, melhorar o monitoramento climático e equipar o Estado com um Centro de Meteorologia Aplicada, dentre outras providências.
Na semana da premiação do Nobel da Paz, os ecojornalistas brasileiros, em congresso nacional, reuniram-se em Porto Alegre para tratar exatamente do aquecimento global e de como enfrentá-lo por meio da mídia. No dia da abertura do congresso, na Secretaria Estadual do Meio Ambiente, cinco alunos da rede pública, acompanhados de seus pais e professores, foram premiados por slogans que criaram alertando sobre os males do aquecimento.
Nesta próxima semana, o Fórum Gaúcho de Mudanças Climáticas, espaço de Estado que traçará o mapa de nossas vulnerabilidades para formulação de planos de adaptação e mitigação, terá seus membros nomeados pela governadora Yeda Crusius. É cada um fazendo um pouco nesta luta de paz. O que não podemos é ficar de braços cruzados.
*CARLOS OTAVIANO BRENNER DE MORAES | Secretário estadual do Meio Ambiente
(
Zero Hora, 18/10/2007)