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amazônia emissões de co2
2007-10-18
Um dos vencedores do Prêmio Nobel da Paz afirma que região terá papel fundamental para regulação do clima

A comunidade internacional não pode questionar a soberania do Brasil sobre a Amazônia sob o pretexto de cuidar do meio ambiente ou evitar mudanças climáticas. O recado é do vencedor do prêmio Nobel da Paz, Rajendra Pachauri, presidente do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC). Em entrevista ao Estado, Pachauri deixa claro que a Amazônia terá um papel fundamental no clima mundial nas próximas décadas e que os países, juntamente com o Brasil, devem negociar um acordo para ajudar o País a manter a floresta. Pachauri, que esteve em Genebra ontem para lançar uma nova iniciativa ambiental ao lado do ex-secretário-geral da ONU, Kofi Annan, garantiu que não custará muito ao mundo tomar medidas para evitar as mudanças climáticas. Mas alerta que uma mudança no estilo de vida será necessário. Eis os principais trechos da entrevista:

O governo brasileiro está tendo dificuldades em manter a cobertura florestal na Amazônia. O que pode ser feito?

A Amazônia é um dos maiores recursos naturais com que o mundo conta hoje para lutar contra as mudanças climáticas. Mas as decisões do governo brasileiro, e, portanto, do povo brasileiro, precisam ser soberanas sobre a região. A Amazônia está no território brasileiro e ninguém pode modificar isso ou mesmo questionar essa realidade.

O meio ambiente, portanto, não coloca em questão a soberania brasileira na Amazônia?

De forma nenhuma. A comunidade internacional precisa entender isso e avaliar como pode colaborar para que o Brasil mantenha a cobertura florestal da Amazônia.

Como então deve ser o envolvimento internacional na Amazônia para garantir sua manutenção?

Há algumas opções. Uma delas seria negociar um acordo para a preservação de florestas em todo o mundo. Nesse caso, seria negociada uma espécie de valor para a conservação da floresta, que seriam os recursos necessários para que a mata seja mantida intacta, inclusive com criação de alternativas econômicas para a população da região. E países ricos poderiam contribuir financeiramente para garantir que a floresta não seja destruída. Obviamente isso é algo que os governos precisam negociar e não posso prever como poderia ocorrer. Certamente essa não será uma negociação fácil.

O sr. acredita que na Convenção do Clima da ONU, que ocorre em Bali, em dezembro, os países possam começar a aproximar posições para um plano de combate às mudanças climáticas?

Minha esperança é que possam avançar. Vejo que um número cada vez maior de líderes está tomando consciência do problema que enfrentamos.

Temos de agir agora. Mesmo que as emissões de CO2 se estabilizem, os efeitos ainda serão sentidos por séculos.

O senhor afirmou na semana passada, ao receber o Prêmio Nobel, que os países emergentes não podem repetir, em seu desenvolvimento, os mesmos erros dos países ricos no passado. Como é que devemos então nos desenvolver?

O modelo de desenvolvimento precisa ser revisto por completo. Sabemos que o modelo utilizado pelos países ricos nas últimas décadas não funcionou em termos ambientais e estaremos sentindo os efeitos disso por décadas ainda. O que eu digo é que Brasil, Índia e China não podem repetir esse modelo e encontrar tecnologias e padrões que garantam um desenvolvimento sustentável. Será de interesse desses próprios países desenvolver esse modelo. O que precisamos é de um novo estilo de vida para o mundo, inclusive com novos hábitos alimentares. Se eu pudesse dar uma recomendação, até pediria para o consumo de carne diminuir. Mas o uso da água para irrigação e outros aspectos da vida precisam mudar.

Mas o governo brasileiro alega que pode custar caro e que não está na hora de limites serem colocados para o crescimento do País.

Os custos de mitigar os problemas não são tão grandes como dizem. Além disso, temos a capacidade técnica para implementar as medidas. É uma falácia dizer que milhões perderão empregos se exigências ambientais forem colocadas. Chegamos a um cálculo que mostra que o mundo precisaria de 0,6% do PIB mundial por ano para atacar os problemas. No total, necessitaríamos de menos de 3% do PIB. Acredito, portanto, que há espaços na economia para ajustar esses gastos, mesmos nos países emergentes. Caso contrário, todos sofreremos. Na América Latina, a produção de grãos pode cair em 30% até 2080 se nada for feito. Na África, a queda seria de 50% até 2020. O racionamento de água, que hoje afeta 12 milhões de latino-americanos, pode chegar a 81 milhões em 2020. Por isso digo que precisamos usar nossos cérebros agora para ver quais são as opções mais eficientes e que não gerariam tantas perdas à economia para redefinir nossa estratégia de desenvolvimento nos países emergentes.

O senhor vem alertando que a produção de etanol deve respeitar critérios ambientais e que não pode ocorrer sem um planejamento. Qual sua avaliação sobre a situação do etanol no Brasil?

Não quero entrar ainda mais nessa polêmica. Mas apenas posso dizer duas coisas: existe o etanol bom e o etanol mau. O que está sendo produzido no Brasil é o bom já que é produzido a partir da cana-de-açúcar. A questão é garantir que a expansão seja planejada.

(Por Jamil Chade, O Estado de S.Paulo,  18/10/2007)



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