Cerca de 2,6 mil integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem terra (MST), de organizações de garimpeiros e da Juventude Urbana do Pará ocuparam nesta quinta-feira (17/10) a Estrada de Ferro Carajás, no município de Parauapebas (PA).
A estrada é usada pela Companhia Vale do Rio Doce para transportar, até o porto do Maranhão, o minério de ferro extraído no Pará. Em nota, a companhia diz que cerca de 300 pessoas ocuparam os trilhos da estrada, na altura dos distritos Vila dos Palmares 1 e 2.
Segundo o integrante do MST Charles Trocate, a estrada foi escolhida para a manifestação pelos danos que a companhia causa ao meio ambiente na região. "Aqui, a Vale do Rio Doce não deixa outra coisa a não ser buracos, com um conseqüência desastrosa ao meio ambiente".
Neuza Sales, que também integra o movimento, afirma que não há previsão para desocupação. De acordo com ela, isso dependerá das negociações e do atendimento das reivindicações dos manifestantes.
Ela diz que, além dos danos ambientais, não há linha de proteção para demarcar os espaços onde os moradores não devem transitar, fato que já resultou em uma morte e gerou um acidente que causou invalidez a outro morador local.
Sales, que vive na região, acrescenta que os moradores reclamam de doenças de pele que teriam surgido após o início do trabalho da Vale do Rio Doce no local.
Para o diretor de Logística Norte da Vale do Rio Doce, Zenaldo Oliveira, as reivindicações dos manifestantes não são de responsabilidade da empresa. "Lamentamos este incidente como toda a sociedade brasileira. Essas reivindicações não têm nada a ver com a companhia diretamente e não fazem sentido para a empresa".
A representante do MST afirma que, antes da ocupação, foram feitas várias tentativas de negociação. Mas, segundo Sales, apesar de se comprometer com o movimento, a companhia não tomou nenhuma providência para entrar em acordo com a população local.
Na nota enviada à empresa, a empresa informa que há 10 dias a Vale comunicou a Justiça Federal de 1ª instância a ameaça de invasão. No último dia 8, diz o comunicado, uma liminar impediu "qualquer ato atentório" à estrada, estipulando multa individual de R$ 100 por dia. O documento, conforme a companhia, foi entregue aos moradores na segunda-feira (15).
A nota diz, ainda, que o juiz Arthur Pinheiro Chaves autorizou "reforço policial para a execução da ordem, oficiando a Polícia Federal e a Polícia Militar para que dessem auxílio ao aparato da Polícia Judiciária Federal para o cumprimento da diligência".
O comunicado da empresa também informa que a Polícia Militar do Pará já foi notificada. "Até o fim da tarde, porém, nenhuma providência havia sido tomada para que a ferrovia fosse liberada".
A Estrada de Ferro Carajás transporta todos os dias 250 mil toneladas de minério de ferro e aproximadamente 1,3 mil passageiros, além de ser responsável pela distribuição do combustível que abastece as cidades do Sudeste do Pará.
(Por Amanda Mota e João Porto,
Agência Brasil, 17/10/2007)