O Fundo Monetário Internacional (FMI) expressou nesta quarta-feira (17/10) sua preocupação com as conseqüências da maior utilização de cereais na produção de combustíveis "verdes" sobre os preços dos alimentos, sobretudo nos países pobres, mas fez elogios à produção brasileira. "A utilização de produtos alimentícios como fonte de energia pode ter conseqüências graves sobre a demanda de alimentos se o crescimento da utilização de combustíveis verdes continuar", advertiu o FMI em seu relatório semestral.
O FMI considera necessária uma maior coordenação internacional sobre o tema para que as políticas que buscam um desenvolvimento rápido dos combustíveis verdes levem em consideração este fator. "A decisão de um país de promover os combustíveis verdes ao mesmo tempo que protege os próprios agricultores pode provocar um aumento dos preços da importação dos produtos alimentícios para outro país, muito provavelmente mais pobre, com conseqüências para o crescimento e a inflação", advertiu a instituição.
Segundo o Fundo, este impacto pode ser atenuado se os Estados Unidos e os países da União Européia (UE) produtores de biocombustíveis reduzirem as tarifas sobre a importação de combustíveis verdes provenientes de países emergentes como o Brasil, "onde a produção é mais barata, mais eficaz e menos prejudicial ao meio ambiente".
O Fundo também questionou as vantagens econômicas para os países ricos do desenvolvimento da produção de biocommbustíveis para enfrentar o aumento das cotações do petróleo, que superaram na terça-feira a barreira dos 88 dólares o barril em Nova York. "Em 2005, os Estados Unidos superaram o Brasil para se tornar o maior produtor de etanol, enquanto a UE é o maior produtor mundial de biodiesel", afirma o relatório.
"Somente o etanol brasileiro derivado da cana-de-açúcar é mais barato de produzir que a gasolina ou o etanol elaborado a partir do milho", destaca o Fundo. As conseqüências sobre o meio ambiente também devem considerar a taxa de utilização das terras agrícolas.
Ao citar um estudo de 2006 da consultora LMC International, o FMI destaca que uma alta de 5% da participação dos biocombustíveis na produção total de combustíveis até 2015 demandaria um aumento paralelo de 15% na proporção de terras cultivadas no mundo. Do lado das vantagens, o FMI afirmou que o desenvolvimento dos combustíveis verdes pode garantir importantes fontes de recursos e empregos para países com economia essencialmente agrícola. A poluição que emana do uso de combustíveis fósseis também seria reduzida, sobretudo nos países com parque automobilístico antigo.
Para os países ricos, a produção de biocombustíveis depende, no entanto, em grande parte da manutenção de vantagens fiscais concedidas aos produtos agrícolas que integram sua composição. Caso estas vantagens sejam eliminadas, o custo de produção aumentaria e os tornaria economicamente pouco interessantes. O etanol seria então majoritariamente produzido no Brasil e o biodiesel nos países asiáticos.
O FMI considera que a melhor política seria instaurar o livre intercâmbio para o comércio mundial de biocombustíveis, ao mesmo tempo que se impõe um tributo às emissões de carbono para maximizar seus benefícios sobre o meio ambiente.
(AFP, 17/10/2007)