Se os recursos hídricos não forem bem cuidados, a água pode acabar em Santa Catarina dentro de duas décadas. Resíduos de indústrias, dejetos animais e contaminação por agrotóxicos já comprometem a qualidade dos mananciais. No Sul e no Oeste do Estado, a situação é crítica, segundo alerta da Secretaria do Desenvolvimento Econômico Sustentável.
Resíduos industriais, dejetos suínos, mineração e esgoto doméstico são apontados como principais vilões
O volume das bacias hidrográficas ainda é suficiente para atender à demanda na maior parte do Estado, mas os sinais da falta de qualidade já são evidentes, de acordo com o 1º Plano Estadual de Recursos Hídricos, apresentado ontem pelo secretário estadual de Desenvolvimento Sustentável, Jean Kuhlmann. "A poluição e o desperdício são as principais ameaças à água catarinense", resume.
Fatores humanos, como as atividades econômicas, quando feitas sem preocupação com o meio ambiente, e climáticos, como as estiagens, são apontados como vilões quando o assunto é a qualidade e quantidade de água disponível para consumo.
As regiões Sul e Oeste apresentam as águas de pior qualidade. No Oeste, a região mais crítica do Estado, a poluição se deve ao lançamento em rios de esgotos domésticos sem tratamento e de dejetos suínos. No Sul, as causas da má qualidade da água são as mesmas, mas no Extremo da região há ainda a mineração de carvão.
Os resíduos da exploração de carvão contaminam a água com metais como o ferro, que aumentam sua acidez e impedem o consumo. Conforme a substância presente nessa água, ela pode se acumular em órgãos como os rins e provocar disfunções no organismo.
"Desde a década de 80, existem sistemas de contenção desses resíduos, mas o solo e as águas que foram contaminados antes permanecem assim, comprometendo a qualidade em certas regiões", explica Silene Rebelo, engenheira agrônoma e mestre em geografia.
É também no Sul do Estado que existe escassez de água devido ao uso intenso para irrigação, principalmente na rizicultura, nos meses de setembro a janeiro. Lá, segundo o diretor de recursos hídricos da Secretaria de Desenvolvimento Sustentável, Rui Batista Antunes, já há conflitos pela água. A indústria e a mineração sucedem a irrigação como as atividades que mais gastam água. O uso dos recursos hídricos nas criações de animais, com destaque para suínos, bovinos e aves, aparecem em terceiro lugar.
A falta de saneamento básico, problema presente em todo o Estado, também é considerada por Rui como um fator preocupante. SC tem a segunda menor cobertura de saneamento básico do País (apenas 11%), ganhando só do Piauí, no Nordeste.
"Se o Estado continuar com ações localizadas, sem elaborar programas que contemplem toda a água de SC, o esgotamento dos recursos hídricos será inevitável, porque a demanda cresce e os recursos não", ressalta Jean Kuhlmann.
A maior demanda de água é na bacia do rio Itajaí, onde são captados cerca de 4,2 metros cúbicos de água por segundo, que equivale a 4,2 mil litros de água. Para se ter uma idéia, para tomar um banho de 15 minutos, uma pessoa gasta cerca de 243 litros. Em seguida, está a bacia do rio Cubatão Sul, que abastece a Grande Florianópolis.
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A Notícia, 17/10/2007)