O presidente russo, Vladimir Putin, defendeu nesta terça-feira o direito do Irã à energia nuclear, dando a entender, no entanto, que a primeira central nuclear iraniana, que seria construída pela Rússia, terá de esperar por causa dos materiais obsoletos encontrados quando o projeto foi assumido pelo país.
Putin chegou à capital iraniana para participar de uma cúpula de países do Mar Cáspio, em meio a fortes medidas de segurança e de um grande mistério depois que informações de que havia um plano para assassiná-lo foram divulgadas. A visita do presidente russo tem uma importância significativa, pois acontece em um momento de crescente pressão entre o Irã e os países ocidentais. O presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, nega-se a suspender suas atividades de enriquecimento de urânio, apesar das sanções e das ameaças da comunidade internacional.
Junto com chefes de Estado dos outros quatro países do Mar Cáspio (Azerbaidjão, Irã, Cazaquistão e Turcomenistão), Putin assinou uma declaração de apoio implícito ao programa nuclear iraniano. Após a reunião, o presidente russo se encontrou com Ahmadinejad e com o guia supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, com quem abordou o tema da central nuclear que a Rússia constrói em Bushehr (sul do Irã).
Putin atribuiu o atraso nas obras ao equipamento obsoleto fornecido pela empresa alemã Siemens antes de Moscou assumir o projeto, segundo a agência Irna. "O equipamento que sobrou daquela época está usado, é velho", disse Putin sobre o material comprado da Siemens no início da construção da central, antes da revolução de 1979. Essas palavras sugerem que a inauguração da primeira central nuclear iraniana será mais uma vez postergada.
A Rússia obteve o contrato para a construção em 1994 e deu início às obras um ano depois. Esse material obsoleto é "um dos problemas que impedem a conclusão imediata" das obras, afirmou Putin, garantindo que a Rússia "está seriamente decidida a terminar a central o quanto antes", ainda que "restem assuntos para resolver". Os atrasos se acumulam há vários anos, mas a razão alegada por Putin havia sido dada como resolvida há tempos. Os russos também se queixam da falta de pagamento dos iranianos, algo que estes desmentem.
Para especialistas ocidentais, os atrasos são a carta que Moscou está guardando para forçar o Irã a ser transparente em relação a seu programa nuclear. Na cúpula dos países do Mar Cáspio, a declaração assinada por seus participantes defendeu "o direito de todo país-membro do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP) de desenvolver pesquisas, produção e o uso da energia nuclear com fins pacíficos, sem discriminação e de acordo com este documento e com os mecanismos da Agência Internacional de Energia Atômica" (AIEA).
Sobre isso, Putin declarou que "as atividades nucleares pacíficas devem ser autorizadas". O Irã já recebeu duas séries de sanções do Conselho de Segurança da ONU, votadas também pela Rússia, devido a sua negativa de suspender o enriquecimento de urânio em seu território. Teerã afirma que suas atividades nucleares possuem apenas objetivos civis, enquanto os países ocidentais temem que isto sirva apenas para encobrir a intenção de fabricar bombas atômicas.
Rússia e China são os únicos países do Conselho de Segurança da ONU que se opõem à adoção de uma terceira resolução com novas sanções contra o Irã. A declaração dos países do Mar Cáspio desta terça-feira também fixou "o princípio da impossibilidade para um Estado de colocar seu território à disposição em caso de agressão contra outro Estado", disse Putin. Esta disposição é especialmente importante para o Irã, temerosos de que os Estados Unidos usem o Azerbaidjão para atacá-lo, apesar de o próprio presidente do país, Ilham Aliev, ter excluído tal possibilidade.
(AFP, 16/10/2007)