O líder Yanomami Davi Yanomami criticou ontem (16/10) em Londres a compra de hectares de floresta promovida por algumas ONGs para ajudar a preservar a Amazônia e qualificou a medida de "inútil".
Na apresentação do novo relatório da organização internacional Survival, o índio afirmou que as matas "não podem ser compradas" e que a única forma de salvar a floresta tropical é protegendo seus habitantes através do reconhecimento de seus direitos.
Esta mesma posição é defendida pela Survival, que, em seu último relatório, afirma que surte mais efeito para a preservação da floresta amazônica a proteção dos territórios indígenas da região que a mera compra do terreno.
"Vocês napëpë (brancos) falam sobre o que chamam de desenvolvimento e nos pedem que nos comportemos como vocês. Mas sabemos que isto só nos traz doença e morte", disse o indígena.
"Preocupo-me com que agora queiram comprar pedaços de floresta e cultivar biocombustível sem levar em conta nossa opinião, porque algum dia vocês terminarão vendendo-os", afirmou Davi, agraciado com o Prêmio Global 500 da ONU em 1989.
Acompanhado de seu filho, ele alertou para a destruição da floresta causada pelas mineradoras e pelos garimpeiros e afirmou que os indígenas não precisam de dinheiro, mas sim de respeito e de que seja exercida pressão sobre os Governos, especificamente o do Brasil.
Davi ressaltou que na quarta-feira visitará o número 10 de Downing Street, residência oficial do primeiro-ministro do Reino Unido, Gordon Brown, para entregar uma carta na qual pede o reconhecimento dos direitos dos indígenas da Amazônia.
A crescente preocupação com os efeitos da mudança climática levou ONGs a proporem a compra de áreas florestais como forma de ajudar a preservar as matas e reduzir as emissões de CO2.
Segundo o último relatório da Survival, intitulado "Progress can Kill" (O progresso pode matar), graças à proteção de territórios indígenas já foi possível salvar mais de 162 milhões de hectares da floresta amazônica.
Isto é 15 mil vezes mais do que as ONGs como a Cool Earth, que defende a compra de hectares de florestas, pretendem proteger.
Davi ressaltou que retirar os indígenas de sua terra colabora para o aparecimento de doenças físicas e mentais nos Yanomami, que habitam a maior reserva indígena em florestas tropicais.
O número de casos de malária entre os Yanomami do Brasil foi de 1.400 em 2005, segundo os últimos dados disponíveis, o que é mais que o dobro que o registrado no ano anterior, em um momento em que a doença ameaça se transformar em uma epidemia para a população.
O líder indígena atribuiu o problema à falta de atendimento médico e à escassez de remédios e acusou os garimpeiros de terem introduzido a doença entre os habitantes da tribo, há mais de 30 anos.
Os Yanomami, que habitam a região amazônica entre a Venezuela e o Brasil, são um dos povos com menor contato com a civilização entre os índios brasileiros e ocupam uma das maiores reservas do país, com cerca de 9,6 milhões de hectares.
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EFE, 16/10/2007)