O leilão de energia marcado para hoje não reduz os riscos de um novo apagão nos próximos anos, segundo especialistas. O objetivo do leilão, realizado pela internet pela CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica), é o fechamento de contratos de energia para 2012.
Para especialistas, o problema é que o risco de racionamento de energia se concentra no período de 2009 a 2011. Segundo Claudio Sales, presidente do Instituto Acende Brasil, que representa os principais investidores privados em energia elétrica, o risco de racionamento em 2011 é de 22%.
O cálculo considera o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) de 4,8% ao ano e que as usinas programadas para entrar em operação não sofram atrasos. O déficit de energia em 2011 chega a 1.800 MW médios. "O leilão de amanhã [hoje] não afeta esse cenário", disse.
Na avaliação de Sales, a solução para evitar um novo apagão depende de o governo contratar reserva de energia e fazer novo leilão de fontes alternativas. Segundo ele, é necessário alterar o modelo previsto de contratação de reserva de energia pelo governo porque, nos moldes atuais, seria sinônimo de tarifas mais caras.
"Não é justo que o consumidor arque com a conta. Os 1.800 MW vão faltar para atender a necessidade dos consumidores livres -empresas que optaram por contratar energia diretamente com os produtores porque era mais barato. Não é justo que esse ônus seja repartido por todos", disse.
Para Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe/UFRJ, o risco de falta de energia é decorrente dos atrasos nas obras. "O que pode atenuar [o risco] é a antecipação da entrada de geradoras térmicas. É preciso resolver o problema da falta de gás natural com a importação de GNL [gás natural liquefeito]. Temos uma situação contrária à de 2001: antes tínhamos gás, mas não tínhamos térmicas; agora temos térmicas, mas não temos o combustível", disse.
De acordo com a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), 19 empresas se qualificaram para participar do leilão de hoje como geradoras -14 térmicas e cinco hidrelétricas, além de 31 concessionárias que atuam como compradoras.
Entre as térmicas inscritas para o leilão, sete são movidas a gás natural, quatro a óleo combustível, duas a carvão mineral e uma a bagaço de cana-de-açúcar. A potência total dos empreendimentos qualificados a participar é de 8.764 MW.
Os contratos para hidrelétricas têm duração de 30 anos. Para as demais fontes, foi determinado um período de 15 anos.
O preço-teto definido pelo Ministério de Minas e Energia para a fonte hídrica foi de R$ 126 por MWh (megawatt-hora). Para as usinas térmicas, o teto é de R$ 141 por MWh.
(Por Janaína Lage,
Folha de S.Paulo, 16/10/2007)