Porto Alegre, RS - O tratamento que a mídia brasileira impressa dá as questões ambientais foi o centro dos debates do primeiro painel da tarde de quinta-feira (11/10), durante o 2º Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental, no Salão de Atos da Ufrgs, em Porto Alegre. O jornalista Eduardo Geraque, do caderno de Ciências do jornal Folha de São Paulo fez uma comparação entre a mídia paulista e a da Cidade do México, México.

“Naquele país as discussões que envolvem o meio ambiente estão mais presentes. Por exemplo, quando há uma eleição, questionam-se as políticas ambientais que serão adotadas pelos candidatos”. Segundo Geraque, a mídia se envolve com qualquer medida adotada pelos governantes, apontando seus prós e contras. O jornalista atribui isso ao fato de que na Cidade do México a cultura ambiental faz parte do dia-a-dia das pessoas, que se mobilizaram, na década de 80, em decorrência dos altos níveis de poluição. “Lá também há um número maior de ONGs".

Nas redações dos jornais brasileiros não existe alguém pensando a questão ambiental. No México, argumenta Geraque, ao contrário, há repórter e editor voltados apenas para o meio ambiente, mesmo que não haja um espaço físico reservado, diariamente, específico para isso. “Os jornalistas são incentivados a escrever sobre o tema para as demais editorias e há uma cobrança por parte do leitor pela publicação dessas matérias. Nenhum dos jornais Folha de São Paulo, Estadão e Globo lança mão desse sistema”, apontou Geraque.

Fontes comprometidas
Já o jornalista, professor da Pós-graduação em Comuinicação Social da UMESP e do curso de jornalismo da ECA/SP, diretor da Comtexto Comunicação e Pesquisa, Wilson da Costa Bueno, criticou a cobrança de um jornalismo isento na cobertura de questões ambientais. “Não existem fontes isentas, tentando passar as duas visões de uma mesma questão. Sempre estão comprometidas com algo ou com alguma empresa. É preciso sempre verificar quem de fato são as fontes”.

Wilson Bueno apresentou uma pesquisa sua, que se encontra em andamento, ‘O Meio Ambiente na Mídia Impressa’, focando a Folha de São Paulo, o Estadão, o Globo e JB. Entre alguns resultados, ele apontou que os homens dominam a cobertura das questões ligadas ao meio ambiente, “o que significa que perdemos e muito do olhar feminino dessas questões e isso faz muita diferença”.

De acordo com a pesquisa, a maioria dos artigos feitos por colaboradores são assinados por professores, jornalistas, políticos e autoridades. “Artigos escritos por representantes de ONGs são muito reduzidos”, informa Bueno. Ele acrescenta que “há muita boca alugada”, onde alguém que assina somente como jornalista também é dono ou trabalha em determinada empresa que tem determinados interesses do tema em questão.

Para Bueno, o jornalista ambiental deve estar comprometido com o leitor e não com determinadas empresas. “Não adianta o profissional que atua na editoria de Economia achar que plantação de eucalipto é floresta. Também não há qualquer avanço se, no caderno de Ciência e Tecnologia, forem entrevistados somente cientistas e não ter uma visão social, com olhar voltado para o povo e o meio ambiente. Isso precisa ser melhor estudado”, finalizou.

(Por Nilza Scotti, EcoAgência, 11/10/2007)