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parques eólicos do rs Proinfa
2007-10-15
A energia eólica apresenta no panorama internacional um mercado dinâmico e uma indústria com alto desenvolvimento científico e tecnológico. A capacidade eólica instalada no mundo já excede os 75 mil MW, com uma taxa de crescimento anual em torno de 26% em 2006. As previsões assinalam que até 2010 o mercado eólico atingirá uma capacidade instalada de 150 mil MW. Apesar disso, a produção eólica ainda é pequena se comparada aos 3,5 milhões de MW de energia produzidos no planeta, mas seu aumento é constante, tendo em vista a alta permanente do preço do petróleo e a preocupação com o aquecimento global.

Durante o Bras Wind 2007 - Conferência Internacional de Energia Eólica - promovido pelo Centro de Energia Eólica (CE-Eólica) da PUC/RS, entre os dias 08 e 10 de outubro, o coordenador do Centro de Referência Solar Eólica (Cresesb/Cepel), Hamilton Moss, apresentou dados do irreversível crescimento das fontes alternativas de energia. A Consultoria Ernst e Young previu em 1997 que até 2006 seriam investidos em energia renovável em torno de U$ 70 bilhões, mas esse valor chegou a U$ 100 bi. Agora ela assegura que até 2016, se mantidas as atuais taxas de crescimento, esse valor alcançe U$ 750 bi.

Altos custos
Segundo a Aneel, em média, o preço do megawatt/hora de energia gerada por usinas termelétricas ou hidrelétricas é de R$ 120 e a nuclear gira em torno de R$ 140, enquanto a gerada por usinas eólicas fica em R$ 232. "Os preços são altos porque ainda não há uma indústria consolidada, mas a tendência é de eles caiam a medida que seu uso seja mais difundido. Mas é um ato mais criminoso 1KW/hora de petróleo do que 1 KW/hora de energia limpa", compara o coordenador técnico-científico do Instituto de Engenharia Mecânica e Gestão Industrial - Unidade de Energia e Ambiente de Portugal (INEGI), Álvaro Rodrigues.

"Por uma questão de demanda aquecida os custos estão mais elevados, mas trata-se somente da 'lei de mercado', e a energia eólica assim como qualquer outro produto não foge à regra", explicou o eng. eletricista do Laboratório de Energia Solar da UFRGS, Me. César Prieb. O engenheiro garante que quanto mais pulverizada for o uso da energia éolica, menores serão seus custos. "As máquinas de pequeno porte são ideais para sistemas isolados, como a área rural, mas ela não é competitiva quando comparada ao preço do kilowatt/hora de outras fontes, por isso há a necessidade de instalar mais fábricas para atender a demanda e formar profissionais capacitados. Sem incentivos esse programa não vai para frente," acredita Prieb.

Nesse sentido, o governo federal lançou em 2002 o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (PROINFA), criado no âmbito do Ministério de Minas e Energia (MME). O objetivo é a diversificação da matriz energética brasileira e a busca por soluções de cunho regional com a utilização de fontes renováveis de energia. O programa estabelece a contratação de 3.300 MW de energia no Sistema Interligado Nacional (SIN), produzidos por fontes eólica, biomassa e pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), sendo 1.100 MW para cada uma. A energia produzida pelas unidades geradoras selecionadas é então adquirida pela Centrais Elétricas Brasileiras S.A. (Eletrobrás).

Complementaridade sazonal
A sazonalidade foi um argumento importante para entrar no Proinfa. Nos meses de maior intensidade dos ventos os reservatórios de água estão vazios. Outra vantagem é a instalação próxima ao mercado consumidor, o que reduz os gastos com linhas de transmissão. "Levamos em conta no nosso projeto a facilidade de conexão", disse o diretor-técnico da Eletrosul, Ronaldo dos Santos Custódio.

Mas um argumento que costuma esfriar os ânimos de qualquer investidor são os altos investimentos. O custo da energia eólica está na ordem de US$ 1,3 milhão por MW instalado, enquanto que hoje a hídrica custa em torno de US$ 600 mil. Porém, ao longo do tempo as hídricas tendem a aumentar seu custo devido às restrições ambientais. "Os impactos ambientais causados por uma hidrelétrica não são computados, como os alagamentos, a destruição da biodiversidade local, os desalojados. Em contrapartida, a eólica não destrói e compartilha o espaço com pastagens e plantações", explica o pesquisador da USP, eng. Fabiano Daer Adegas.

"Depois de instalados, os custos limitam-se à manutenção, mas hoje uma turbina tem uma vida útil de 25 a 30 anos. Mas quando se pensa em aproveitamento eólico a discussão se detém no fato de que ela é a única fonte que complementa o regime hídrico", afirma Adegas.

Desafios do setor
Entre os desafios existentes para a inclusão e o fomento da energia eólica estão: critérios técnicos; estabilidade do mercado; capacitação e assistência técnica com laboratórios especializados para acompanhamento e medição; boas máquinas resistentes ao maus tratos e intempéries.

"Foi uma grande falha do Brasil ter deixado de investir na eólica, o que nos torna dependentes de muita transferência de conhecimento. Agora faz-se importante apostar no aperfeiçoamento da indústria nacional", expôs o coordenador do CE-Eólica e idealizador do Bras Wind 2007, professor da Faculdade de Engenharia da PUC/RS, Dr. Jorge Antônio Villar Alé. "Ainda há muito a ser estudado para a aplicação desta energia no meio urbano, e os problemas, se é que existem, devem ser minimizados. Esse é o papel da pesquisa tecnológica".

Um dos mitos é que as turbinas atuam como um canal de sucção, o que causaria a morte de aves migratórias. "As máquinas mais modernas giram a 30 rotações por minuto, velocidade considerada lenta o suficiente para que os pássaros consigam contorná-las ou atravessá-las sem riscos", esclarece Fabiano Adega. "Também não há inconvenientes para a comunidade com relação aos ruídos, porque há 200 metros de distância já não se escuta o barullho, assim como não há transferência de tremores para a terra", argumentou o pesquisador.

Parque eólico de Osório
O parque eólico de Osório, localizado no litoral do Rio Grande do Sul, é considerado a maior usina eólica da América Latina. O projeto, subdividido em três parques - Osório, Sangradouro e Índios - tem um total de 75 aerogeradores (25 por parque) e uma potência instalada de 150 MW, quantidade suficiente para abastecer anualmente o consumo residencial de cerca de 650 mil pessoas.

O empreendimento envolveu um aporte de R$ 670 milhões, dos quais 69% financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A empresa gaúcha CIP Brasil formou uma sociedade com a espanhola Enerfin Enervento (Grupo Elecnor) e a alemã Wobben-Enercon. Juntas deram origem à empresa Ventos do Sul Energia para a administração do projeto. A espanhola Enerfin Enervento conta com 90% de participação, a alemã Wobben com 9% e a CIP Brasil com 1%.

Os Parques Eólicos de Osório tiveram anos de estudos ambientais antes de sua implantação. Houve uma grande preocupação tanto por parte dos empreendedores quanto da FEPAM no que se refere ao menor impacto. A área está preservada, inclusive com as espécies animais habitando naturalmente o local.

A matriz energética do Estado é predominantemente hidrelétrica, com a participação de geração térmica, utilizando carvão e gás natural. As fontes alternativas têm ainda pouca expressão. O Brasil conta atualmente com uma capacidade eólica instalada de 237 MW, sendo que o Rio Grande do Sul concentra mais de 60% desta capacidade em função do parque eólico de Osório, que representa uma contribuição de cerca de 3% da energia elétrica no Estado.

"Desde o programa Ventos do Sul eu tenho visto que estamos com projetos de energia mais maduros. Os resultados atuais foram maravilhosos graças ao apoio do Proinfa, embora eu ache que a potencialidade da energia eólica no RS é muito maior do que o que exploramos até agora," constatou o representante da empresa Camargo e Schubert, Odilon do Amarante. "Apesar dos custos, o negócio é viável, mas sem fundo constante. O setor precisa de continuidade, de um programa mais perene, não intermitente. Não queremos visibilidade como a que é dada ao etanol, mas um pouco de divulgação já ajudaria muito", conclui.

(Por Adriana Agüero, AmbienteJÁ, 13/10/2007)

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