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etanol biocombustíveis
2007-10-15

A mandioca está longe de poder competir com a cana-de-açúcar como matéria-prima para a produção de etanol. Mas uma nova variedade produzida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) surge com potencial para servir como uma matriz complementar, principalmente nas áreas de Cerrado.

Luiz Castelho Carvalho, pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, apresentou a inovação na semana passada, em Brasília, na Conferência Internacional dos Biocombustíveis, um dos eventos que integram a Enerbio 2007.

“No processo convencional para fabricação do álcool a partir da mandioca é preciso hidrolisar o amido que está no tubérculo. É assim que se produz o açúcar, que é fermentado para fabricação do álcool. O problema é que a hidrólise é um processo dispendioso tanto em termos financeiros como energéticos”, disse Carvalho à Agência Fapesp.

A variedade criada pela Embrapa dispensa o processo de hidrólise. “Em vez de amido, ela tem açúcar na raiz. E esse açúcar é a glicose, que é o substrato do processo de fermentação”, explicou.

De acordo com o pesquisador, a nova variedade reduz o custo energético em mais de 25%. “Já temos três plantas industriais experimentais de álcool de mandioca em São Paulo, em Botucatu, Tarumã e Flavel”, disse.

Segundo Carvalho, a intenção não é rivalizar com o etanol de cana-de-açúcar, mas ocupar nichos complementares de mercado. “Não queremos competir com a cana. Acho que ela vai muito bem, tem boa tecnologia e é muito eficiente em vários segmentos da cadeia de produção. Só queremos atingir nichos onde a cana não será opção. Ela, sozinha, não dará conta da demanda, principalmente se quisermos exportar”, afirmou.

Segundo ele, as limitações científicas foram resolvidas e, no momento, o problema é de ordem tecnológica. “Na parte científica, identificamos o fenótipo que substitui o amido pelo açúcar, identificamos o gene, já temos a variedade e agora estamos transferindo a carcterística para a variedade comercial voltada para o Cerrado”, disse.

De acordo com Carvalho, o objetivo é que o álcool de mandioca seja uma opção para a região Centro-Oeste. “A cana está vindo de São Paulo para o Centro-Oeste. Não queremos mexer com a cana paulista, que está dando conta do recado, mas, para vir para o Centro-Oeste, será preciso desenvolver novas variedades e isso vai demorar pelo menos uma década, enquanto o etanol de mandioca poderá estar no mercado em 2010”, destacou.

Além da produção de etanol, a Embrapa está desenvolvendo mais dois projetos com mandioca, segundo Carvalho. “Estamos pesquisando a produção de hidrogênio e bio-hidrogênio por meio do açúcar da mandioca. O objetivo é produzir células de hidrogênio. Outro projeto, em fase de escalonamento industrial, trata de desenvolver biopolímeros que sejam úteis no processo de metalurgia, para purificação do ferro”, contou.

Segundo o cientista, a identificação do fenótipo de açúcar foi feita em 2000. O uso do açúcar de mandioca para a metalurgia foi testado em 2004, e o processo para fabricação de etanol, dois anos depois.

O processo de produção de etanol a partir dos carboidratos da mandioca foi iniciado na década de 1970, com o programa Pró-Álcool, segundo Carvalho. Mas os experimentos foram gradativamente abandonados diante do sucesso do álcool de cana-de-açúcar.

“Existe muito espaço para ser conquistado em termos de produtividade agronômica. Não se pode ainda comparar com a produtividade da cana, mas o desenvolvimento tecnológico deverá seguir o mesmo caminho”, disse.

(Por Fábio de Castro, Agência Fapesp, 15/10/2007)


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