Um juiz da Alta Corte britânica identificou "nove erros científicos" no filme Uma Verdade Inconveniente, que rendeu ao ex-vice-presidente americano Al Gore o Oscar de melhor documentário neste ano. O juiz Burton analisava se o documentário sobre mudança climática realizado por Gore - que sustenta a tese da ação humana como causa do aquecimento global - poderia ser exibido em salas de aula.
A sentença considerou o filme tendencioso, mas permitiu sua exibição sob condição de que os professores apontem os trechos polêmicos e apresentem os argumentos contrários às informações. Segundo o magistrado, os erros científicos da obra incluem a alegação de que o nível do mar subirá até 20 pés (mais de 6 metros) por causa do derretimento do gelo na Antártida e na Groenlândia.
Esta afirmação foi considerada "alarmista". Segundo o juiz, indícios apontam que o derretimento do gelo da Groenlândia liberaria esta quantidade de água "apenas em milênios". Outra parte do documentário reprovada pelo juiz faz referência a estudos científicos que indicam que, pela primeira vez, ursos polares se afogaram ao tentar nadar longas distâncias - até quase 100 quilômetros - em busca de gelo.
"O único estudo científico que ambas as partes conseguiram apontar é um que indica que quatro ursos polares foram encontrados recentemente afogados por causa de uma tempestade", disse o juiz. A Corte aceitou ainda a argumentação de que não há evidências científicas suficientes para estabelecer uma relação entre o aquecimento global e o desaparecimento da neve no monte Kilimanjaro, no leste da África.
O filme foi analisado a pedido do diretor de uma escola inglesa em Kent, que tentou barrar a exibição do documentário. Uma Verdade Inconveniente havia sido enviado a todas as escolas secundárias da Inglaterra, Escócia e País de Gales. O documentário foi acusado de imprecisões em diversas ocasiões, mas venceu o Oscar de sua categoria em fevereiro deste ano e deu um "empurrão" para que o ex-vice-presidente americano fosse cotado para o prêmio Nobel da Paz, que será anunciado nesta sexta-feira.
Para o analista de meio ambiente da BBC Roger Harrabin, a decisão é "embaraçosa para Al Gore", e poderia levar o público a refletir sobre a polêmica envolvendo a validade das evidências científicas em torno do aquecimento global. Para Harrabin, a sentença não afeta o governo britânico, já que o principal argumento do filme não é questionado.
"É importante esclarecer que os argumentos centrais de Uma Verdade Inconveniente, de que a mudança climática é causada principalmente por emissões de gases gerados pela ação humana e terá conseqüências adversas, são amplamente apoiadas em opiniões científicas", disse o secretário da Infância, Escola e Família da Grã-Bretanha, Kevin Brennan. "Nada no comentário do juiz desmente isto."
(BBC, 13/10/2007)