O ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, admitiu que o seu país está a estudar a possibilidade de fornecer a Cabo Verde uma mini-central nuclear flutuante, soube-se fonte oficial. Este anúncio foi feito depois de conversações entre o chefe da diplomacia russa e o seu homólogo cabo-verdiano, Víctor Borges, que realiza a sua primeira visita à Federação Russa desde o seu desmembramento da União Soviética em 1991.
Moscovo anunciou, no ano passado, o início da produção de mini- centrais nucleares flutuantes que poderão ser transportadas para qualquer parte do mundo a fim de gerar energia eléctrica. O projecto já foi apresentado em Cabo Verde pela empresa russa Rosenergoatom, que o desenvolveu e descartou o risco da produção de energia a partir de mini-centrais nucleares no arquipélago.
Os autores deste projecto acreditam que este poderia ser uma alternativa para países como Cabo Verde que têm uma crónica falta de energia e dependem quase em exclusivo do petróleo importado. O Governo cabo-verdiano solicitou, no entanto, à Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) um parecer sobre a instalação na ilha de Santiago duma mini-central nuclear, que deverá funcionar a partir de uma embarcação.
O ministro da Economia, José Brito, que tutela o sector da energia, disse que a proposta russa é extremamente aliciante do ponto de vista económico, mas afirmou que o Governo cabo-verdiano prefere ter primeiro todas as garantias de segurança antes de avançar. “A questão neste momento tem a ver com a segurança. Temos de ter toda a certeza se isto é bom para nós e se for vamos avançar. Mas, neste momento o projecto está em fase de estudo”, disse Brito.
A proposta apresentada pela Rosenergoatom prevê que Cabo Verde, caso adira ao projecto, não terá de investir nada, apenas comprará a energia produzida a um custo muito mais baixo do que o actual e o lixo atómico produzido será tratado na Rússia. Brito adianta que a construção duma mini-central atómica, a funcionar numa embarcação, poderia ser a solução para o crónico défice de energia e água na ilha de Santiago, a maior e a que abriga mais de metade da população do arquipélago.
«A proposta que temos em mãos é de uma central para produzir o mínimo de 70 megawatts e neste momento não há muitas ilhas com esta capacidade de consumo, apenas Santiago", sublinhou o ministro da Economia. No entanto, o anúncio da possibilidade da instalação em Cabo Verde duma mini-central nuclear desencadeou reacções negativas de quadros cabo-verdianos no país e no estrangeiro, que rejeitam uma aposta numa fonte "alternativa" de energia não totalmente segura e cujas consequências ambientais, em caso de acidentes, são terríveis.
Os contestatários da opção pela energia nuclear para resolver a grave crise energética que ameaça emperrar o forte crescimento económico de Cabo Verde aconselham a aposta nas energias renováveis produzidas a partir do sol, vento e mar, que podem ser caras para a realidade cabo-verdiana, mas "limpas", abundantes e renováveis, sem radioactividade e com impactos ambientais muito menos nocivos.
(Pana, 13/10/2007)