Ao ser informada por índios ianomamis e militares do Exército, na sexta-feira (12/10), que a localidade de Maturacá, 130 km ao norte de São Gabriel da Cachoeira (AM), sofre racionamento de energia elétrica há dez meses porque um gerador está queimado, a ministra Dilma Roussef (Casa Civil) se indispôs com dirigente da Ceam (Centrais Elétricas do Amazonas), controlada pela Eletronorte, na frente de autoridades e de jornalistas.
Cobrando uma explicação pelo problema ao diretor-presidente da Ceam, Willamy Moreira Frota, a ministra descobriu que R$ 50 mil já haviam sido repassados ao Exército. Mas nem Exército e nem Ceam explicaram o motivo da demora do reparo no gerador de energia que está queimado desde 25 de dezembro de 2006. Estão prejudicadas as aulas, o atendimento odontológico, bombeamento de água encanada e a refrigeração de alimentos.
Falando em de voz alta, Dilma disse a Frota: "É uma coisa muito simples de fazer [o reparo nos geradores] se o dinheiro da Ceam já foi repassado ao Exército".
Frota tentou se explicar à ministra: "Essa usina é do Exército, vamos ajudar a recuperar. A gente vai ajudar de imediato, mas não sabíamos que o gerador estava queimado".
Cobrado pela ministra, o chefe do Estado Maior de Defesa, almirante Marcos Martins Torres, apenas confirmou que estava acompanhando o assunto.
O general Augusto Heleno Pereira, chefe do Comando Militar da Amazônia, amenizou o clima tenso da visita. "O grande objetivo dessas visitas é conhecer o problema. Uma coisa é ouvir falar, outra coisa é ver, olho no olho. E aí as soluções aparecem", afirmou o general.
A ministra Dilma foi a Maturacá acompanhada do ministro Nelson Jobim (Defesa) que visitam os destacamentos e pelotões do Exército na Amazônia Ocidental. Eles viajaram à localidade, que faz parte do município de São Gabriel da Cachoeira (858 km oeste de Manaus) no avião C-105 da FAB (Força Aérea Brasileira) com uma comitiva de mais de 50 pessoas.
O problema da falta de energia foi exposta à ministra pelo tenente Guilherme Brotel Carvalho, comandante do Pelotão Especial de Fronteira de Maturacá, e pelo ianomâmi Júlio Góes, 60.
Jobim acompanhou o assunto à distância. Chegou a acender um charuto, mas apagou rápido para não ser fotografado.
Com o rosto pintado de preto e flecha na mão, Góes entregou ao governador do Amazonas, Eduardo Braga (PMDB), que acompanha os ministros, um documento com cópia para ministra Dilma Roussef de pedidos de cestas.
Olhando para o ianomami Júlio Góes, Dilma prometeu cumprir os pedidos que constavam do documento, que além das cestas pedem ainda melhoria na saúde, nas estradas e nas pontes da comunidade: "Lula disse que é para resolver".
(Por Kátia Brasil, Folha online, 13/10/2007)