Mesmo depois de a Alta Corte britânica ter apontado nove erros no filme "Uma verdade inconveniente" na tarde de quinta-feira (11/10), seu produtor, o ex-vice-presidente americano Al Gore, conseguiu levar nesta sexta (12/10) o prêmio Nobel da Paz. Gore e o comitê de clima da Organização das Nações Unidas (ONU), o IPCC, venceram pelo trabalho de conscientização sobre a ameaça do aquecimento global.
"Ele é provavelmente a pessoa que mais fez para criar uma maior compreensão mundial sobre as medidas que precisam ser tomadas", afirmou o comitê do Nobel, que escolheu os premiados entre 181 candidatos.
"O comitê (da ONU) criou um amplo consenso sobre a conexão entre as atividades humanas e o aquecimento global", acrescentou.
Juiz considera conteúdo do documentário tendencioso
O juiz Michael Burton, que analisava os filmes a serem exibidos nas escolas britânicas, considerou o filme tendencioso, mas não impediu sua exibição, desde que os professores apontem os trechos polêmicos e apresentem os argumentos contrários às informações.
A luta pelo meio ambiente estrelada por Gore faz do ex-vice presidente americano um dos fortes candidatos ao prêmio Nobel da Paz, cujo ganhador será anunciado na sexta-feira. O juiz britânico reconheceu que seu filme é "bastante correto" na apresentação das causas e prováveis efeitos da mudança climática, mas ressaltou que algumas das afirmações feitas no documentário são "alarmistas e exageradas".
Uma decisão anterior do governo britânico de exibir o documentário nas escolas secundárias do país foi contestada pelo diretor de um colégio, que recorreu a Alta Corte. Agora, o primeiro erro de Gore, segundo Burton, é afirmar que o nível dos mares poderia subir seis metros "num futuro próximo", afirmação que qualificou como "contrária ao consenso científico".
Outras duas inverdades seriam o esvaziamento de atóis no Oceano Pacífico e os dados apresentados por Gore sobre os níveis de dióxido de carbono e a temperatura na Terra nos últimos 650 mil anos.
O juiz também contestou a afirmação de que a Corrente do Golfo poderia deixar de circular. Entre os questionamentos, Burton cita ainda que Al Gore atribui às mudanças climáticas a seca do Lago Chad, o degelo do Kilimanjaro e o furacão Katrina. Mas, segundo a Corte britânica, os cientistas ainda não comprovaram o vínculo desses fenômenos ao aquecimento global.
A Corte também considerou imprória a associação que o filme faz entre o afogamento de ursos polares e o degelo de seu habitat natural provocado pelo aquecimento global. Por fim, o juiz criticou Al Gore por atribuir o branqueamento de corais às mudanças climáticas.
O veredicto, classificado como insólito pelo jornal britânico "The Times", assinala que a "visão apocalíptica" do filme é política e não se trata de uma análise imparcial e científica. "É sabido que não é simplesmente um filme científico" destaca o juiz no veredicto da Alta Corte britânica.
(O Globo, com agências internacionais, 13/10/2007)