Programa que já financiou 236 pequenas ações de desenvolvimento rural na região beneficiou 8.600 famílias nos últimos 13 anosUm programa que financia, a fundo perdido, pequenas atividades de desenvolvimento rural no Cerrado aplicou US$ 6,720 milhões na região nos últimos 13 anos, beneficiando 8.600 mil famílias. Os projetos abrangem de apicultura a artesanato, passando por extrativismo, recuperação de bacias hidrográficas e manejo ambiental, com objetivo de gerar renda e preservar esse bioma que ocupa 25% do território brasileiro e reúne cerca de 6.400 espécies de plantas.
Criado em 1994, o PPP-Ecos (Programa de Pequenos Projetos Ecossociais) já beneficiou 236 iniciativas de camponeses, indígenas e quilombolas em 14 unidades da Federação, como Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás, Distrito Federal e Tocantins.
“Os investimentos estão mudando a perspectiva social dos moradores dessas regiões”, afirma Andréa Lobo, presidente do ISPN (Instituto Sociedade, População e Natureza), que administra o PPP-Ecos. “O programa tornou-se um dos únicos meios de financiar as atividades das cooperativas no cerrado sem burocracia”, diz. O projeto enfatiza a capacitação técnica de comunidades do Cerrado e a criação de meios para facilitar a venda dos produtos agroextrativistas, como o babaçu, a macaúba, o açaí, o limão-verde e o pequi. “Damos apoio às organizações comunitárias, mas não queremos criar dependência”, declara.
Andréa cita o caso de mulheres que dependiam da renda dos maridos e não tinham perspectiva de mudança de vida, como em Planaltina, uma região administrativa do Distrito Federal. Elas mudaram sua participação familiar depois de fazer um curso com técnicas de agroecologia especificamente voltado para o público feminino e jovem. Hoje, contribuem com o orçamento doméstico e trabalham em associações, como a Cooperativa de Trabalhadores da Reforma Agrária do DF e Entorno.
A presidente da ISPN reconhece que é difícil quantificar as mudanças econômicas no Cerrado como um todo, mas ressalta que há ganhos importantes. Um exemplo é a produção do pequi, fruta amarelo-ouro, típica do Cerrado e usada na culinária. Ele vem transformando a vida dos moradores de Japonvar (MG): todo ano, a colheita do pequi gera cerca de 5 mil empregos e movimenta quase R$ 1 milhão.
Em 2007, a previsão é que a safra do pequi seja de 15 toneladas, o que garante renda média de R$ 400 mensais para cada um dos 200 membros da Cooperativa de Produtores Rurais e Catadores de Pequi de Japonvar. Parte da produção, que inclui 600 quilos de castanha-de-pequi e 2 mil litros de óleo da fruta, vai ser exportada.
Vinculado ao GEF (Fundo Global para o Meio Ambiente, na sigla em inglês), o PPP-Ecos abriu um novo edital para este ano e está recebendo novos projetos até 12 de novembro. Há duas linhas de atuação: para projetos em fase inicial, que podem receber até US$ 30 mil, e para projetos consolidados, que podem receber US$ 50 mil. Ao todo, o PPP Ecos pretende liberar US$ 720 mil. A seleção dos projetos que serão contemplados é feita por um Comitê Gestor Nacional, que avalia a qualidade e a abrangência de cada um. O comitê é formado por membros do PNUD, da OIT (Organização Internacional do Trabalho) e diversas organizações não-governamentais, como o ISA (Instituto Socioambiental).
Em média, cada projeto dura dois anos. Atualmente, cerca de 100 comunidades estão recebendo apoio direta ou indiretamente com os investimentos do PPP-Ecos.
(Por Rafael Sampaio,
PrimaPagina, 10/10/2007)