Diante dos constantes alarmes que soam a respeito dos graves impactos provocados pelas mudanças no comportamento do clima, surgem opiniões diversas, geralmente complementares e, em alguns casos, contraditórias. A magnitude do problema que enfrenta a humanidade é tal que já ninguém ignora o assunto.
Recordemos que na Cúpula da Terra (Rio 92) não se conseguiu que fosse firmado nos documentos oficiais que a queima de combustíveis fósseis era responsável pelo aquecimento global. Os fatos dissiparam toda e qualquer dúvida e neutralizaram qualquer tentativa de pôr em discussão as conclusões dos informes técnicos que advertem sobre o perigo causado pelas emissões dos gases do efeito estufa.
Foi publicado o último trabalho do reconhecido cientista britânico James Lovelock, famoso por ser o autor da teoria de Gaia. “A vingança da Terra” resume o pensamento de Lovelock, após várias décadas de incansável trabalho a favor da conservação e bem estar dos seres humanos, por mais que os seres humanos não contribuam muito para isso. Está centrado o referido trabalho na discussão de qual é o futuro próximo do planeta, portanto, da humanidade.
É muito interessante a forma com que define a dependência do petróleo que experimenta a sociedade. “Como civilização, somos como um toxicômano, que morrerá se seguir consumindo sua droga, mas também morrerá se deixá-la de repente.” É que está ocorrendo uma combinação de realidade que não nos pode conduzir a nada bom. Por um lado, utilizamos massivamente fontes de energia extremamente contaminantes, por outro, superpovoamos a Terra.
Antes esse panorama, Lovelock assegura que a civilização desmorona se abandona a tecnologia. Em lugar de recorrer ao caminho fácil de propor seus abandono, insiste em que se deve usá-la sabiamente. O que significa isso? Significa que devemos utilizar a energia pensando no bem estar das pessoas e também da terra. “Por isso é demasiado tarde para seguir a via do desenvolvimento sustentável; o que precisa é uma retirada sustentável”.
É muito interessante essa vião do problema porque, segundo ele, explica a falta de resultados, de ações efetivas, no contexto internacional, em matéria de mitigação do aquecimento global. Nosso modo de vida está fortemente ligado ás cidades. Nelas a vida transcorre em aparente equilíbrio e harmonia. Mas nada está mais distante da realidade. Os insumos e recursos básicos que a cada dia devem estar a disposição da população, provém de ecossistemas externos às cidades.
A “Terra viva” de Lovelock está sendo expoliada de tal forma, que a estamos deixando sem meios para sobreviver, tanto o confotável mundo ao que estão acostumados os setores que vivem um bom nível de vida, como a dura realidade que vivem amplos setores da sociedade, incapazes de satisfazer suas necessidades elementares. ”Agora a Terra está mudando, seguindo suas próprias regras internas, até um estado em que já não seremos bem-vindos."
Essa “retirada sustentável” que propõe Lovelock, ainda que possa resultar em algo desagradável e vergonhoso, siginfica quiçá uma valente proposta, na medida que consiga transformar o modelo de produção e consumo.
(Por Hernán Sorhuet Gelós*, El País / EcoAgencia, 03/10/2007)
*O autor é articulista sobre meio ambiente do jornal El Pais, de Montevideo, com publicação autorizada para a EcoAgência no Brasil. Reprodução autorizada, citando-se a fonte (El Pais / EcoAgência).
- Tradução de Ulisses A.Nenê / EcoAgência.