Prioridade dos guaranis, caiuás e terenas é com sobrevivência no MS. Em Dourados, metade dos 12 mil índios da reserva tem menos de 14 anos.
Setenta e um por cento das crianças e adolescentes indígenas do país estão em situação de pobreza. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as crianças representam 28% da população indígena do Brasil. São 146 mil indiozinhos.
Em Dourados, no Mato Grosso do Sul, a proporção é ainda maior: metade dos 12 mil índios da reserva tem menos de 14 anos.
Em Dourados está a maior concentração indígena por metro quadrado do país. São três povos vivendo numa área de 3.500 hectares. Por isso, a prioridade dos guaranis, caiuás e terenas ainda não é a educação, e sim, a sobrevivência.
As famílias dependem das cestas básicas entregues pelo governo federal. A distribuição começou depois que 25 crianças morreram por causa da desnutrição em 2005. Em 2006 uma morte foi registrada. Este ano, três crianças morreram em Dourados até agora por complicações nutricionais. Por isso, a fome ainda preocupa.
No Centro de Recuperação de Desnutridos, Cristiane Vilhalva, de 10 anos, cuida da irmã porque a mãe está em casa com os outros seis filhos. Há dois meses Taís estava muito abaixo do peso. "Estava muito magrinha. Agora ela está grande já!”, diz.
A Fundação Nacional de Saúde faz o acompanhamento de 95% das crianças da reserva, mas o médicoZelik Trajber diz que só o atendimento hospitalar não resolve o problema da comunidade. "Necessitamos de programas estruturantes e para isso precisamos definição de terra e políticas de auto-sustentabilidade para essa comunidade".
Enquanto isso não acontece, a criança internada no Centrinho é estimulada a levar uma vida o mais normal possível. João Carlos Vidinha é o responsável pelas brincadeiras. Largou a profissão de professor em São Paulo para enfrentar o novo desafio. “Para que essa criança possa estar sentindo realmente amada por toda equipe todos estão procurando fazer com que essa criança seja realmente mais criança".
Valdenir Machado, índio caiuá, de 9 anos, está na escola. Quer crescer com saúde, viver da roça e seguir o exemplo do pai. "Quero trabalhar com enxada, com facão, com martelo, com foice, roçar", sonha.
(
G1, 10/10/2007)