A humidade aumentou na maior parte do planeta apesar de algumas regiões como o Oeste dos Estados Unidos, África do Sul e partes da Austrália estarem mais secas, revela um estudo da revista Nature hoje divulgado. A quantidade de humidade presente no ar próximo da superfície - o que faz com que o calor se torne insuportável - aumentou 2,2% em apenas três décadas.
Os modelos simulados em computador mostram que a única resposta possível para este aumento é o aquecimento global provocado pelo homem. «Esta alteração da humidade é uma contribuição importante para o stress causado pelo calor nos humanos como resultado do aquecimento global», afirmou Nathan Gillett da Universidade East Anglia em Inglaterra, um dos autores do estudo.
Gillett estudou alterações na humidade específica, a qual é uma medida do total da humidade presente no ar, entre 1973-2002. Os aumentos na humidade podem ser perigosos para as pessoas, porque tornam o corpo menos eficiente no seu arrefecimento, explicou o investigador de saúde e clima da Universidade de Miami Laurence Kalkstein.
Um dos autores do estudo Katharine Willet, investigadora do clima na Universidade de Yale, afirmou que a humidade aumentou na maior parte do globo, excepto em alguma regiões que ficaram mais secas que antes. O resultado não surpreende os cientistas, já que a física dita que ar mais quente pode conter mais humidade. Mas o estudo de Gillett mostra que o aumento da humidade já é significativo e pode ser atribuído às emissões da queima de combustíveis fósseis.
Para mostrar que tem origem humana, Gillet realizou modelos em computador para simular condições climatéricas antigas e estudou o que aconteceria à humidade sem efeito de estufa causado pelo homem, o que não retratava a realidade actual. O investigador procurou o que aconteceria se apenas existisse o efeito de estufa causado pelo homem, o que também não coincidia com a realidade actual.
Ao estudar a combinação de condições naturais e efeito de estufa, percebeu que os resultados foram quase idênticos ao aumento anual de humidade dos dias de hoje. O estudo de Gillett seguiu-se a um outro no mês passado que usou a mesma técnica para mostrar que a humidade por cima dos oceanos aumentou e isso mostrou a marca de ter a mão do homem no aquecimento global.
Os cientistas descobriram no aquecimento global as marcas da mão do homem em 10 aspectos diferentes do clima da terra: temperaturas à superfície, humidade, vapor de água sobre os oceanos, pressão atmosférica, precipitação, fogos florestais, mudanças nas espécies de plantas e animais, secas, temperaturas na atmosfera superior e aquecimento dos oceanos.
«Esta história agora faz sentido. Já não há pontas soltas» afirmou Ben Santer, cientista do Laboratório Nacional em Lawrence Livermore, autor do estudo de Setembro sobre humidade por cima dos oceanos. «A mensagem é bastante clara, que causas naturais sozinhas não fazem isto», acrescentou.
O cientista Andrew Weber da Universidade de Victoria, o qual não fez parte de nenhuma das equipas de pesquisa, afirmou que os estudos fazem sentido. No futuro, Gillett prevê que a humidade no ar aumente 6% por cada grau Celsius. Usando as projecções para os aumentos das temperaturas do Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas, tal significará um aumento de 12 a 24% da humidade até 2100.
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Diário Digital / Lusa, 10/10/2007)