Cinqüenta cientistas, dentre os quais 15 vencedores do prêmio Nobel, apresentaram nesta quarta-feira (10/10) um memorando no qual convocam todos os países industrializados a assinar um acordo internacional contra o aquecimento global, que abra caminho para uma "grande revolução energética". O documento será entregue pelo diretor-geral do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), Rajendra Pachauri, à secretaria da Conferência sobre o Clima da ONU, que será realizada em dezembro, em Bali, na Indonésia.
No memorando, que resume dois dias de discussões sobre os efeitos do aquecimento global e as maneiras de suavizá-los, os Nobel (em sua maioria de Física e de Química) afirmaram que, caso não haja uma atuação rápida e global, "o mundo estará fadado ao apocalipse". "O crescimento socioeconômico experimentado após a Segunda Guerra Mundial pôs nosso planeta em uma situação sem precedentes. A humanidade está atuando em escala planetária como uma força quase geológica e, se não tomarmos providências, os danos no sistema terrestre serão muito qualitativos e irreversíveis", diz o texto.
Os quinze laureados - entre eles o descobridor do buraco da camada de ozônio, o mexicano Mario Molina - concordaram que a única maneira de evitar essa situação é "reinventar o metabolismo industrial" e iniciar "um Plano Marshall mundial". O Plano Marshall foi uma política elaborada pelos Estados Unidos e destinada à recuperação dos países da Europa Ocidental após a Segunda Guerra Mundial.
"É preciso reduzir de forma drástica as emissões de gases que provocam o efeito estufa, e isso requer uma mudança no estilo de vida dos países ricos e mais responsabilidade por parte dos países pobres", afirmam os vencedores do Nobel. Para os cientistas, uma responsabilidade comum a todos é acabar com o desmatamento e acelerar o reflorestamento, oferecendo incentivos às comunidades para que preservem suas florestas.
O memorando propõe um novo "pacto entre a sociedade e a comunidade científica", e sustenta que o acordo seguinte ao Protocolo de Kioto, em 2012, deve incluir sete elementos-chave para conseguir a estabilização do clima. Dentre estes sete tópicos, o documento destaca a redução pela metade das emissões de dióxido de carbono (CO2) até o ano de 2050, o que permitiria uma queda de até 2°C na temperatura terrestre.
Segundo o que foi antecipado por Pachauri do relatório que será apresentado pelo IPCC no mês que vem, em Valência (Espanha), os efeitos do aquecimento global estão sendo mais rápidos e perceptíveis do que o previsto. Para chegar à meta dos 2°C, os Nobel recomendaram a fixação de objetivos drásticos de redução a curto e médio prazo, além de um aumento do investimento em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias.
O memorando reconhece o direito das nações mais pobres ao desenvolvimento, embora estabeleça limites para a obtenção de energia por meio de combustíveis fósseis. Os quinze cientistas vencedores do Nobel cunharam o conceito de "justiça do carbono", resultante da equação entre emissões per capita e a capacidade de emissão de cada país.
No documento de Potsdam, o grupo qualifica como "imprescindível" a inclusão, em um acordo contra a mudança climática pós-Protocolo de Kioto, da criação de um mercado mundial de compra e venda de emissões transparente e com preços estáveis. Os Nobel defenderam também a rápida implementação de projetos avançados de energia solar e de "captura e armazenamento" de CO2, projeto este que foi discutido com entusiasmo pelos cientistas durante os dois dias de reunião.
Trata-se da criação de "cemitérios de CO2", semelhantes aos chamados "cemitérios de resíduos nucleares", o que permitiria a continuação do uso de combustíveis fósseis. Os cientistas destacaram também a necessidade da criação de uma aliança público-privada para tecer uma rede mundial de serviços e tecnologias de alerta e de adaptação à mudança climática, especialmente nos países em desenvolvimento, os mais afetados.
Para iniciar "esta grande transformação", os Nobel concordaram que todos os esforços têm que ser realizados de forma completa e integrada através da ONU. "Temos que criar um novo sistema que, em vez de debilitar, reforce o sistema das Nações Unidas e integre as discussões sobre mudança climática, ecossistemas, comércio e desenvolvimento e que, além disso, tenha credibilidade na hora de promover estruturas democráticas", concluíram.
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Yahoo Brasil, 11/10/2007)