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biocombustíveis
2007-10-10

A cana-de-açúcar pouco a pouco perde sua liderança em eficiência energética. Estudos do Centro de Agrobiologia da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) apontam o capim elefante como uma espécie de potencial imensamente superior. Sua biomassa seca pode gerar 25 unidades de energia para cada uma de origem fóssil consumida em sua produção. Por sua vez, a cana, convertida em etanol, alcança uma relação de apenas nove por uma. Mas esses dois líderes em balanço energético enfrentam desafios e caminhos distintos antes que possam competir, por exemplo, em geração de eletricidade.

O capim elefante, cujo nome científico é Pennisetum pupureum, só recentemente despertou o interesse dos grandes consumidores e empresários de energia, após décadas de pesquisa científica. Trata-se de uma gramínea semelhante à cana, trazida da África há pelo menos um século e usada como alimento para o gado. O interesse energético por está espécie foi despertado por sua alta produtividade. Enquanto o eucalipto, árvore mais no Brasil para produzir celulose e carvão vegetal, fornece 7,5 toneladas de biomassa seca por hectare ao ano, em média, e até 20 toneladas nas melhores condições, o capim alcança de 30 a 40 toneladas, afirmou à IPS o técnico Vicente Mazzarella, que estuda esta espécie desde 1991 no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), do governo do Estado de São Paulo.

Além disso, o eucalipto necessita de sete anos para atingir um tamanho conveniente para o corte, enquanto o capim oferece duas a quatro colheitas anuais, devido ao seu rápido crescimento. E sua produtividade pode ser ampliada, já que se trata de uma espécie pouco estudada e sem melhoramento genético. Tem cerca de 200 variedades e demora identificar as que se desenvolvem melhor nas diferentes condições de clima e solo, disse Mazzarella. A Embrapa Agrobiologia identificou, após 10 anos de estudos, três variedades interessantes para fins energéticos, por sua boa produtividade sem fertilização nitrogenada. A pesquisa nessa caso busca o capim menos nutritivo possível, o oposto do que se fez tradicionalmente com a intenção de alimentar o gado.

É que a presença de muitos nutrientes, como sais minerais, gera cinzas que podem danificar os fornos siderúrgicos, explicou à IPS Bruno Alves, agrônomo que participa da equipe de pesquisa do capim elefante na Embrapa Agrobiologia, liderado por Segundo Urquiaga. Por essa razão os testes foram feitos com variedades que podem crescer m solos pobres, procurando usar o mínimo de fertilizantes, mas sem sacrificar a produtividade de biomassa. O balanço energético da gramínea pode melhorar com a fixação biológica de nitrogênio disponível no ar, área em que o centro agrobiologico da Embrapa acumulou muito conhecimento nas últimas décadas, inoculando bactérias em leguminosas e na cana-de-açúcar.

A fixação limita-se ao nitrogênio que a planta precisa, eliminando-s o risco do excesso, explicou Alves, lembrando que esse fertilizante é o que mais exige energia fóssil em sua produção. Eliminando sua aplicação nas plantações evita-se a emissão de gases causadores do efeito estufa. Mas, o capim elefante também apresenta dificuldades. "Gosta de muita água", por isso deve-se estudar sua tolerância às longas estiagens do cerrado, onde ficam as maiores extensões de terras disponíveis para o cultivo, e se mantém a produtividade com menos umidade, reconheceu Alves. Secar e compactar sua biomassa são outros desafios, admitiu Mazzarella.

O capim elefante verde contém 80% de água e não seca no meio ambiente, como o eucalipto, porque se for amontoado pode apodrecer. Sua secagem exige que seja cortado em pedacinhos e algum tipo de energia. Além disso, a compactação é indispensável para a armazenagem e o transporte, diante do grande volume do pasto seco. Por essas razões, a indústria de cerâmica aparece como o setor inicial que impulsionará o novo insumo energético. Suas fabricas medias demandam menos de 100 hectares cultivados nas proximidades, dispensando o transporte e compactação, e podem usar o capim diretamente em substituição à lenha ou ao gás natural. Outras atividades que apenas precisam de calor ou vapor também poderão aderir a essa alternativa em breve.

Entretanto, uma empresa média de eletricidade, Sykue Bioenergia, adiantou o processo e contratou a construção da primeira central termelétrica que será alimentada com capim elefante. A usina será erguida em São Desidério, no interior da Bahia, segundo informou em julho a Dedini, a empresa industrial mais conhecida por produzir centrais açucareiras e destilarias de álcool. A central da Sykue custará R$ 80 milhões e deverá iniciar suas operações em dezembro de 2008. Sua capacidade será de 30 megawatts e se abastecerá de capim elefante cultivado em quatro mil hectares. A companhia pensa em fazer 10 dessas centrais e obter créditos de carbono.

Produzir carvão a partir do capim elefante, para substituir o coque mineral ou o carvão vegetal tradicional, feito da madeira, ainda exigirá muita pesquisa. Mas a pressão ambiental e a ameaça de déficit energético no Brasil podem reduzir o tempo de seu desenvolvimento, estimulando investimentos de grandes empresas siderúrgicas e energéticas. A demanda potencial para essa alternativa de energia é imensa, segundo Mazzarella, que apontou cinco grandes mercados. Além da siderurgia interessada em um novo carvão vegetal que não cause desmatamento, estão o grupo de grandes consumidores de energia, como as indústrias de alumínio, química e de cimento, além das distribuidoras de eletricidade.

Para estes últimos setores, a energia de biomassa representa uma economia-chave, porque se trata de suprir o consumo nas horas de maior demanda, o que mais encarece seus gastos. Para a mineração, que importa carvão para transformar o ferro em pellets, especialmente para exportação, também seria uma solução econômica e ambiental. Além disso, na Europa está em franca expansão o consumo de biomassa seca e compactada, na forma de pequenos pedaços, por exemplo. Considerado a sério, pode abrir, para o Brasil, exportações comparável à do etanol, disse Mazzarella.

(Por Mario Osava, IPS, 09/10/2007)


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