Caso houvesse rompimento do casco do navio NT Kalia carregado com 4 mil toneladas de nafta, um eventual vazamento causaria danos ambientais, levando à mortandade de peixes e à suspensão parcial da captação de água do Guaíba. A embarcação permaneceu 29 horas encalhada, em Porto Alegre.
O alerta foi feito ontem pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam).
- Até acionar os equipamentos para conter o nafta, teria vazado grande quantidade. Teríamos dano ambiental, como mortandade de peixes - diz Victor Hugo Rodrigues, engenheiro de segurança e técnico do serviço de proteção ambiental Fepam.
O órgão dispõe de barreiras de contenção de apenas 120 metros - tamanho incapaz de cercar a embarcação de 105 metros de comprimento por 15 metros de largura.
- Teriam de ser acionadas a Copesul e a Petrobrás - diz Rodrigues.
Na hipótese de a nafta ter vazado para o Guaíba, uma das estações de abastecimento do Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae) poderia ter sido afetada.
- Com o vazamento, teríamos interrompido a captação da estação de Belém Novo. As outras seis do Guaíba não seriam afetadas. Significa que 96% de toda demanda de água da Capital não seria atingida. Muito difícil que alguém ficasse sem água - analisa Valdir Flores, superintendente de operações do Dmae.
É também improvável que municípios da Região Metropolitana abastecidos pela Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) fossem prejudicados.
- A captação da Corsan no Guaíba ocorre nas cidades de Guaíba e Barra do Ribeiro, que ficam distantes do local onde o barco encalhou. Seriam necessárias grande quantidade de vazamento e movimentação intensa da água para que a captação fosse suspensa - tranqüiliza o engenheiro químico Marinho Graff, superintendente de Tratamento da Corsan.
Tráfego de navios com carga tóxica é freqüente
Navios com nafta atracam em Triunfo ao menos duas vezes por semana. O assessor de comunicação e marketing da Copesul, João Ruy Dornelles Freire, garante que a empresa tem bóias de contenção para cercar até dois navios. Em caso de acidente, uma bomba capaz de captar rente à lâmina da água retiraria o hidrocarboneto contido na barreira. Por fim, se fosse o caso, um absorvente granulado seria usado, possibilitando a retirada manual de hidrocarbonetos.
Embora o tráfego de navios com carga tóxica seja freqüente, encalhes são incomuns.
- Não há registro de navios encalhados nos últimos quatro anos e meio pelo menos - diz o capitão-de-corveta Leandro de Oliveira Pires, oficial de relações públicas da Capitania dos Portos em Porto Alegre.
O navio de bandeira cipriota NT Kalia havia encalhado às 8h35min de segunda-feira, próximo à Ponta do Mel e ao Canal das Pedras Brancas, na zona sul da Capital, após zarpar de Rio Grande. A existência de rochas naquele local fez com que técnicos cogitassem o transbordo de parte da carga para reduzir riscos de acidente. Na madrugada de terça-feira, porém, a elevação nas águas do Guaíba movimentou a embarcação, possibilitando seu rebocamento. Levado para o canal por volta das 13h de ontem, o navio foi conduzido até o cais do porto, onde será submetido a inspeção.
(Zero Hora, 10/10/2007)