Dos quartos de hotéis cariocas para o lixão pernambucano. Esse foi o curso percorrido pela ex-camareira e hoje catadora de materiais recicláveis, Lindaci Maria Gonçalves, depois que decidiu sair do Rio de Janeiro para voltar a Abreu e Lima, onde moravam os pais. Sem outra opção diante do desemprego, Lindaci foi ganhar a vida como catadora de no lixão de Inhamã.
Da vontade de sair do lixão e serem reconhecidos como classe, Lindaci e mais outros 12 catadores conseguiram formar, em 2004, a Associação de Catadores de Materiais Recicláveis Erick Soares. Aliada à Cooperplast, cooperativa que trabalha com o beneficiamento de plástico, a Associação fortaleceu seu trabalho e, finalmente, ganhou um galpão para trabalhar fora do lixão de Inhamã, formando assim o projeto Reciclação.
Com o apoio da incubadora de empreendimentos solidários do Departamento de Educação da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Incubacoop, o projeto Reciclação ganhou o patrocínio da Petrobrás, que já ajudou na ampliação do maquinário de reciclagem e na reforma das sedes das Erick Soares e da Cooreplast.
Com o propósito de fortalecer o trabalho das duas organizações, baseado na economia solidária, o próximo passo do projeto é construir um tanque de decantação que permita com que a água obtida no processo de beneficiamento do plástico saia em boas condições de uso, evitando assim a poluição da natureza.
Hoje, ao invés do lixão, os catadores dependem apenas da consciência dos moradores da comunidade do Fosfato, onde estão localizadas as duas organizações, para ganrantir matéria prima para a sua produção. O lixo que antes era catado no aterro, agora é recolhido nas casas de moradores do bairro que fazem a coleta seletiva.
Além de recolher o lixo, os próprios catadores fazem um trabalho de conscientização dos moradores locais para que mais pessoas passem a fazer também a seleção do lixo. Com esse trabalho, cerca de 26 toneladas por mês de materiais recicláveis estão sendo evitadas de ser jogadas no lixão, que fica somente a 10 minutos do mangue da cidade.
Apesar dos avanços conseguidos em pouco mais de um ano de incubação, Associação ainda está longe de chegar ao ideal de produção. Enquanto a Cooperplast beneficia uma tonelada de plástico por dia, a Associação só consegue beneficiar 3 toneladas por mês. Isso, conforme explicou Lindaci, que hoje é presidente da Associação, dificulta para que a organização entre no mercado de trabalho porque as empresas compradoras só querem remessas de 10 toneladas de plástico, o que, por enquanto, é inviável ata a Erick Soares.
A solução para a dificuldade já foi encontrada. O que falta agora é conseguir pôr em prática a Rede de Comercialização que a Associação, juntamente com o Movimento Nacional de Catadores, pretende formar para fortalecer o comércio e garantir o escoamento da produção e mercado de trabalho para os catadores.
(Adital, 09/10/2007).