Até bem pouco tempo, quando pensava em sacolas de mercado, uma detenta de 53 anos do Presídio Regional de Santa Maria ficava muito triste. Ela está presa por furto há mais de três anos e sabia que as filhas em casa podiam não estar garantindo nem as compras básicas para a sua sobrevivência. Mas foi justamente com sacolas de mercado que a realidade dela mudou. Ela é um dos 19 detentos que fabricam as embalagens retornáveis que estão sendo distribuídas pela Rede Vivo de Supermercados para os seus clientes. A participação na atividade garante uma renda mensal de cerca de R$ 250, que a maioria usa para ajudar suas famílias.
- No mês passado, eu mandei R$ 200 para as minhas filhas e fiquei com R$ 50 para comprar um óculos - diz a detenta.
O projeto começou em agosto, quando a rede formou uma parceria com o presídio para fabricar as sacolas retornáveis. Elas devem conter parte da distribuição das embalagens de plástico normalmente fornecidas nos mercados e ajudar o ambiente.
Há dois meses, uma artesã começou a ensinar quatro presos a confeccionar as sacolas com sacos de farinha de trigo. Conforme o presídio foi conseguindo ampliar o espaço e a rede de mercado forneceu máquinas de costura, a participação dos presos aumentou. Por enquanto, são 19, mas a sala onde funcionava a marcenaria já está sendo preparada para receber mais máquinas e oportunizar que 30 pessoas trabalhem no local. Eles ganham R$ 0,20 por sacola. Em um dia de trabalho, cerca de 900 são feitas.
- Além de ser uma alternativa de renda, é bom porque a gente não fica trancado o tempo todo - afirma um preso de 27 anos.
Para participar do projeto, não é preciso que os presos tenham conhecimentos de costura. O único critério é que eles já estejam cumprindo pena e tenham bom comportamento. Quem já está trabalhando ajuda os iniciantes.
O projeto parece ter dado certo em Santa Maria. A cidade está produzindo as sacolas que a rede está entregando em todas as suas lojas na região. Os presídios de Santiago e Jaguari devem começar a participar da parceria em alguns meses. A idéia é que, juntas, as duas cidades ofereçam oportunidade de renda para mais 20 detentos. Um convênio com São Gabriel também está sendo estudado.
Lixo
São 21 caminhões largando resíduos no aterro da Caturrita todos os dias, o que corresponde a cerca de 150 toneladas de lixo. Boa parte do material chega em sacolas plásticas distribuídas pelos mercados. Em meio aos resíduos, há muitas garrafas plásticas, papéis e outros materiais que poderiam ser reciclados
(Por Marilice Daronco, Diário de Santa Maria, 10/10/2007)