Grandes empresas começam a 'adotar' áreas verdes como forma de compensar a poluição que causam. A estratégia desses grupos é financiar pequenos e médios proprietários de terra para que mantenham intactas suas áreas de floresta. Com isso, podem obter ganhos de imagem, usando o marketing 'verde' para promover seus produtos e serviços.
Um projeto no Paraná, capitaneado há quatro anos pela ONG ambientalista Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), já permitiu a adoção, por parte de empresas e pessoas físicas, de uma área superior a 800 hectares. São remanescentes de mata de araucária que vêm sofrendo a pressão das madeireiras, da especulação imobiliária e da agricultura. A possibilidade de financiar a conservação dessas áreas chamou a atenção de empresas como Grupo Positivo, Rigesa Papel e Celulose e Sun Chemical. Agora, novos parceiros, como o HSBC Seguros e a Posigraf - unidade gráfica do Grupo Positivo -, aderiram ao programa.
De acordo com Clóvis Borges, diretor da SPVS, a idéia é aproveitar a onda do 'carbono neutro' para sensibilizar as empresas e angariar fundos para a conservação das áreas de floresta que ainda restam. 'De modo geral, as empresas não se engajam com freqüência em programas de conservação. Mas, com as notícias sobre o aquecimento global, elas estão buscando meios de compensar suas emissões de carbono', diz.
A diferença, segundo Borges, é que o mote do programa não é o plantio de árvores, e sim evitar o desmatamento. 'A onda de plantar árvores pode demorar a surtir o efeito desejado, que é retirar carbono da atmosfera. Conservar áreas já existentes é uma ação mais imediata, prevista pelo Protocolo de Kyoto.'
No modelo proposto, as empresas pagam uma mensalidade para os proprietários das terras adotadas, que se comprometem a deixar as áreas intocadas. É o caso de Alba Campanholo, herdeira de uma área de 131 hectares numa localidade a 80 km de Curitiba, adotada pelo Grupo Positivo. Com os recursos obtidos com a preservação, ela faz a manutenção da propriedade e emprega dois funcionários. 'Recebemos inúmeras propostas para vender a área. Queriam derrubar araucárias de 300 anos e plantar batatas. Optamos pela preservação' diz. 'Minha família tem um santuário nas mãos.'
PRODUTOS 'VERDES 'O HSBC Seguros vai investir R$ 3,5 milhões na adoção de áreas, ação vinculada a uma campanha de compensação das emissões de carbono dos seguros de veículos e residência. 'A cada contratação ou renovação de seguro, o cliente ganha um bônus para preservar uma área de mata nativa de 88 m2, no caso de veículo, ou de 44 m2, no caso de residência, pelo período de cinco anos', diz Marcelo Teixeira, diretor-superintendente do HSBC Seguros. Com uma carteira de 250 mil clientes, a expectativa do executivo é preservar uma área de 16 milhões de m2 de mata nativa - o que se traduz em uma ferramenta de marketing de fácil comunicação para os clientes.
Para o Grupo Positivo, a manutenção de áreas verdes também é eficiente em termos de imagem. 'Para nós é importante manter essas áreas, pois servem tanto a propósitos educacionais quanto em retorno de imagem', diz Giem Guimarães, diretor da Posigraf.
De acordo com a SPVS, que atua nas regiões Sul e Sudeste, atualmente menos de 3% do território dessas regiões está ocupado por florestas. No Paraná, resta atualmente menos de 0,3% do território ocupado pela vegetação nativa.
COMO FUNCIONA Adoção: Empresas interessadas em apoiar a conservação de áreas verdes podem adotar essas áreas, pagando aos proprietários uma mensalidade. No Paraná, a ONG SPVS (www.spvs.org.br) procura parceiros para adoção de novas florestas
Compensação do carbono: Com isso, as empresas podem, por meio de um cálculo científico, compensar parte das emissões de gases de efeito estufa
Marketing 'verde': Em vez de plantar árvores, como é a onda do momento, a iniciativa preserva as já existentes e garante às empresas associar sua imagem a projetos 'verdes'G
(Por Andrea Vialli,
O Estado de S.Paulo, 10/10/2007)