O chefe geral da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Agroenergia), Frederico Ozanan Machado Durães, reiterou hoje em Brasília, durante abertura da segunda edição na Conferência Internacional dos Biocombustíveis (Enerbio), que o projeto de biodiesel do Brasil apenas irá se consolidar nos próximos 5 a 10 anos. Até lá, a oferta de biodiesel estará bastante dependente da soja por ser uma commodity com produção já estabilizada na agricultura brasileira. "Embora outras oleaginosas tenham um teor de óleo muito superior, elas ainda precisam de pesquisa e de oferta em escala, o que não existe neste momento", disse.
Para Durães, o fato de as regras dos próximos leilões de biodiesel priorizarem a venda do produto da agricultura familiar com "selo social" deve ser visto como uma maneira de o governo incentivar os pequenos produtores, criando demanda cativa para sua produção. Ele acredita, contudo, que será o mercado que irá ajustar esta oferta e muito provavelmente será o biodiesel de soja que irá ser utilizado na entrada em vigor da obrigatoriedade da mistura de 2% de biodiesel no diesel mineral a partir de janeiro de 2008.
Segundo ele, 85% do biodiesel produzido hoje no Brasil tem a soja como matéria-prima. "Vamos precisar deste produto para dar início ao projeto, mas será um risco nos apoiarmos apenas nesta commodity durante muito tempo", comentou. Ele salientou a necessidade de um mapeamento do sistema de produção para um novo produto para o biodiesel, além de zoneamento agroclimático e, principalmente, a obtenção de uma infra-estrutura para a produção de sementes.
Durães afirmou que, apesar de o Brasil ter uma agenda pública para os biocombustíveis, presente no Plano Nacional do Agronegócio 2006-2011, ainda falta foco para o projeto. Ele ressaltou a necessidade de integrar ao programa aspectos econômicos, sociais e tecnológicos. "Tem de haver uma interação entre estes aspectos e não serem projetos estanques, isolados", informou.
Gestão territorialO chefe geral da Embrapa disse ainda que somente com uma gestão territorial para diferentes culturas é que o projeto de biodiesel brasileiro terá resultado. Durães acredita que uma das saídas seria um programa de gestão em torno de uma planta industrial para que fossem identificadas as melhores culturas que possam ser aproveitadas pela indústria. "E a agricultura tem riscos que precisam ser mensurados. Não é mais apenas extrair o petróleo ou o carvão mas riscos de perdas provocadas por eventos climáticos, por exemplo, ou por pragas", comentou.
Pinhão mansoSegundo Durães, a aplicação da jatrofa, mais conhecida como pinhão manso, como matéria-prima para a produção de biodiesel tem sido feita pela iniciativa privada e não pelo governo. "Muitas empresas estão investindo no pinhão manso mas por sua conta e risco", garantiu ele. Isto porque, segundo o pesquisador, a Embrapa não tem ainda todas as informações básicas sobre a oleaginosa.
"Sabemos que é uma espécie que tem alto teor de óleo, mas não é uma espécie de alta adaptabilidade e não apresenta a mesma produtividade nas várias regiões do País", salientou. Segundo ele, uma nova cultivar pode demorar até 15 anos para ter sua produção em escala e a pesquisa sobre pinhão manso ainda é incipiente. "Este prazo pode ser reduzido com parcerias estratégicas com a iniciativa privada", explicou.
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Agência Estado, 09/10/2007)